segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

A Temporada 2011


Terminada a Temporada 2011 no futebol brasileiro, os clubes correm atrás de reforços para 2012 e os torcedores ainda fazem o balanço de seus clubes em meio às festas de final de ano. Alguns estão tendo um natal alegre outros nem tanto, pelo menos no aspecto futebolístico. Nesse post o Futebol e Samba faz esta análise da temporada de cada um dos grandes clubes brasileiros e ainda divulga a nova pontuação do Ranking Futebol e Samba. Mãos à obra:

Corinthians: O ano começou tenebroso com a inacreditável eliminação na Fase Preliminar da Copa Libertadores para o inexpressivo Tolima-COL. Fato inédito na história para clubesa brasileiros. Ainda no primeiro semestre, o Timão sucumbiu na final do Paulistão diante do Santos. No brasileiro a única esperança de voltar à Libertadores. O técnico Tite foi pressionado durante todo o ano, mas conseguiu levar o clube à conquista de seu quinto título brasileiro. Uma conquista a meu ver inquestionável, já que o Corinthians liderou 27 das 38 rodas da competição. Saldo positivo no fim.

Palmeiras: O grande rival do Timão teve um ano pífio na minha opinião. Fez uma boa primeira fase no Paulistão, terminando na segunda colocação, tendo sido eliminado nos pênaltis pelo Corinthians na semifinal. Mas na Copa do Brasil protagonizou um vexame histórico: foi surrado pelo Coritiba por 6 a 0 e deixou a competição nas quartas de final. No Brasileiro, chegou a despontar no pelotão de frente no primeiro turno mas fez péssimo segundo turno, terminado em 11º lugar. Na Sul-Americana caiu diante do Vasco ainda na fase nacional da competição.

Santos: Podemos classificar o ano santista como excelente, o melhor dos grandes clubes brasileiros. A derrota diante do mágico Barcelona na final do Mundial não apaga a temporada espetacular do time da Vila Belmiro. No primeiro semestre campeão paulista quando disputava a Libertadores simultaneamente. Na principal competição continental, levou o troféu que apenas o time de Pelé havia conquistado pela última vez em 1963. No Brasileiro o foco se perdeu e o clube viveu dos lampejos de Neymar e da partida épica contra o Flamengo em agosto. O resultado foi o 10º lugar.

São Paulo: Ano muito ruim para o clube do Morumbi. Acostumado a comemorar títulos, os são-paulinos terão de se contentar em ficar fora da Libertadores pela segunda temporada consecutiva. Umalástima para o clube que se planeja todo ano para esta competição. No Paulistão terminou a primeira fase na ponta, mas caiu para o Santos de Neymar e Ganso na semifinal. Na Copa do Brasil uma eliminação vexatória para o Avaí, que acabou rebaixado no Brasileirão. Na fase nacional da Sul-Americana tirou o Ceará, mas caiu para o Libertad-PAR na fase internacional. No Brasileiro ficou a um ponto da zona de classificação para a Libertadores, terminado no 6º lugar.

Botafogo: Mais um ano frustrante para os botafogueneses. Se em 2010 veio o título carioca e uma quase vaga na Libertadores no Brasileiro, em 2011 nem isso. A má campanha do primeiro semestre custou o cargo de Joel Santana. Já com Caio Júnior o time foi eliminado nas oitavas da Copa do Brasil pelo Avaí em um jogo polêmico. No Estadual viu o domínio completo do grande rival Flamengo. Na Copa Sul-Americana usou de uma estratégia equivocada ao poupar titulares em uma partida em casa e acabou eliminado pelo Santa Fe-COL. Já no Campeonato Brasileiro esteve todo tempo no pelotão de frente, tendo por três oportunidades tendo tido a chance de assumir a ponta da competição. Foi muito mal na reta final, terminando na 9ª posição e mandando o técnico Caio Júnior embora a três rodas do fim.

Flamengo: Saldo negativo no meu modo de ver para os rubro-negros. O ano começou promissor com as chegadas de Felipe, Thiago Neves e Ronaldinho Gaúcho. Domínio completo no Carioca, que foi conquistado de maneira invicta. Mas nas principais competições do ano fracassou e pior, viu o grande rival brilhar. Caiu para o Ceará na Copa do Brasil quando perdeu o primeiro jogo do ano em casa, já no mês de maio. No brasileiro fez ótimo primeiro turno, terminando na segunda colocação. Mas no segundo turno fez jogos horríveis, permanecendo 10 rodadas sem conquistar uma vitória sequer. Acabou em quarto lugar, garantindo uma vaga na Libertadores. A torcida ainda aturou a humilhação de ser surrado pela Universidad de Chile na Sul-Americana em pleno Engenhão por 4 a 0. E Ronaldinho ficou devendo no conjunto da obra.

Fluminense: Não foi um bom ano para os tricolores. Depois de serem campeões brasileiros na temporada 2010, a expectativa era a melhor possível. Mas o primeiro semestre foi muito ruim, com uma péssima campanha no Estadual, quando chegou a ser eliminado pelo Boavista na Taça Guanabara. Uma briga política fez o clube perder Muricy Ramalho para o Santos. Na Libertadores uma precoce eliminação nas oitavas para o Libertad-PAR. Na segunda metade do ano, o Flu trouxe Abel Braga e fez ótima campanha no Brasileiro, chegando a brigar pelo título até a 37ª rodada. O 3º lugar rendeu uma vaga na Libertadores pelo segundo ano consecutivo, fato inédti na história tricolor.

Vasco: 2011 foi o ano da redenção vascaína. E olha que ele começou como os últimos havia terminado: com vexames. Quatro derrotas seguidas e a pior campanha da história no início do Estadual. Recuperado e com Ricardo Gomes no comando, o Vasco perdeu a Taça Rio e viu o rival Flamengo ganhar de forma invicta o título. Mas o título inédito da Copa do Brasil foi o pontapé inicial para um segundo semestre intenso e glorioso, apesar de sem títulos. O problema de saúde de Ricardo Gomes fez dos jogadores do Vasco verdadeiros gladiadores em campo. O vice do Brasileirão e a eliminação na Sul-Americana não mancham o ano da volta do grande Vasco da Gama.

Grêmio: O tricolor gaúcho fez uma temporada ruim. Conquistou apenas o Gaúchão diante do grande rival Internacional. Na principal competição do ano, a Libertadores, foi eliminado pelo Universidad Católica-CHI já nas oitavas de final. No Brasileirão, frequentou na maioria da competição a parte de baixo da tabela, terminando na 12ª colocação. Nem Renato Gaúcho e nem Celso Roth deram jeito no Grêmio e, 2011.

Internacional: O ano começou com o Inter detentor do título de Campeão da Libertadores, mas ainda com a ressaca de um vexame sem precedentes no Mundial, ao ser eliminado pelo Mazembe. Em 2011 o Inter deixou a Libertadores ainda nas oitavas ao ser eliminado pelo Peñarol-URU e ainda perdeu o Estadual. No Brasileiro, depois de campanha irregular, conseguiu na bacia das almas a última vaga para a Libertadores ao terminar na 5ª colocação.

Atlético-MG: 2011 foi como 2010 e como infelizmente têm sido na história recente do Galo: um ano a se lamentar. Perdeu o Estadual para o grande rival, o Cruzeiro. Na Copa do Brasil conseguiu a proeza de ser eliminado pelo Grêmio Prudente na segunda fase. Na Copa Sul-Americana foi eliminado ainda na fase nacional para o algoz Botafogo. Como vem sendo praxe brigou para não cair no Brasileiro até as últimas rodadas, escapando no fim. Quando tinha chances de empurrar o grande rival para a Série B, protagonizou um dos grandes vexames da sua história: foi surrado por 6 a 1 para o Cruzeiro. Péssimo ano do Galo. E 2012 não aparenta que será muito diferente.

Cruzeiro: Começou o ano arrasador, terminando a primeira fase da Libertadores com a melhor campanha e vencendo o Estadual sem fazer nenhuma força. Recebeu a alcunha de "Barcelona das Américas". Entretanto nas oitavas da Libertadores foi eliminado dentro de casa pelo Once Caldas-COL. A diretoria desmanchou o time e o torcedor celeste sofreu como nunca no segundo semestre. Cuca saiu Joel chegou. Joel saiu e Vágner Mancine chegou. E as derrotas se acumulavam. Os cruzeirenses só respiraram aliviados na última rodada depois de surrarem o arqui-inimigo Atlético por 6 a 1 e garantirem a permanência na Série A depois de um segundo turno em que venceram apenas dois jogos. Para o que os cruzeirenses se acostumaram foi um ano difícil.

Ranking Futebol e Samba - 2ª Edição:

Pouca coisa se alterou no Ranking desde sua criação, no primeiro semestre de 2011. O Corinthians, campeão brasileiro, chegou aos 940 pontos e encostou no rival Palmeiras, 7º colocado com 950 pontos. A ponta segue folgada nas mãos do São Paulo e as demais posições permaneceram inalteradas. Confira a classificação de seu time:

1- São Paulo: 1.630 pts.
2- Santos: 1.500 pts.
3- Grêmio: 1.100 pts.
4- Flamengo: 1.100 pts. (os gaúchos seguem na ponta por terem uma Libertadores a mais)
5- Internacional: 1.060 pts.
6- Cruzeiro: 1.040 pts.
7- Palmeiras: 950 pts.
8- Corinthians: 940 pts.
9- Vasco: 710 pts.
10- Atlético-MG: 590 pts.
11- Fluminense: 540 pts.
12- Botafogo: 410 pts.

Nesta última postagem do Blog Futebol e Samba em 2011 aproveito para desejar um excelente 2012 cheio de realizações e conquistas. E, claro, muito Futebol e Samba para todos! 

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

João Clemente Jorge Trinta

Gênios são aqueles que de alguma forma realizam seus feitos de forma diferente daquilo que nós esperamos. Entram para a história os indivíduos que, dentro de sua área de atuação, mudam para sempre a história, causando impacto e criando uma nova tendência. Todas estas características servem para descrever Joãozinho Trinta, sem a menor dúvida o maior carnavalesco da história do carnaval brasileiro.

Depois de anos lutando com problemas de saúde o genial artista dormiu para sempre. João conquistou nada menos que oito carnavais no grupo principal do carnaval carioca, sendo que cinco deles na Beija-Flor (76/77/78/80/83), dois no Salgueiro (74/75) e um na Viradouro (1997). Só que ele foi tão genial, que em muitos casos trabalhos seus que não foram campeões acabaram mais aclamados que os próprios vencedores.


Joãozinho veio muito jovem do Maranhão (sua terra natal) para o Rio sonhando ser bailarino do corpo principal do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Mas foi no carnaval que ele marcou seu nome na história da cultura brasileira. Levado para o Salgueiro por Arlindo Rodrigues nos anos 60, João ajudou a conceber os carnavais da agremiação tijucana junto com o próprio Arlindo, Fernando Pamplona e Maria Augusta.

Seu primeiro carnaval "solo" aconteceu em 1974. Com o enredo "O Rei da França na Ilha da Assombração", o Salgueiro foi o campeão, título que não vinha desde 1971. Joãozinho ainda conquistou o bi no ano seguinte com o enredo "O Segredo das Minas do Rei Salomão". Por divergências com a então direção salgueirense, Joãozinho se transferiu para a Beija-Flor de Nilópolis. E foi na agremiação da Baixada Fluminense que ele marcou para sempre o seu nome no carnaval.

Estreou sendo campeão com o enredo "Sonhar com rei dá Leão", em 1976. Venceu ainda em 1977 ("Vovó e o Rei da Saturnália na Corte Egipciana") e 1978 ("A criação do Mundo na Tradição Nagô"). Com esses títulos, João conquistou um inédito pentacampeonato, feito que ninguém ainda conseguiu igualar. Some-se a isso o fato de na época o carnaval conhecer apenas quatro escolas vencedoras: Portela, Mangueira, Império Serrano e Salgueiro. Joãozinho foi pioneiro também ao levar para o alto dos carros os luxuosos destaques, além de alegorias imensas. Vanguarda nos anos 70, praticamente praxe nos tempos atuais.

Joãozinho ficou na Beija-Flor até 1992, quendo deixou a agremição por divergências com a direção. Foram 16 carnavais ao todo. Antes de sair ele ainda foi campeão em 1980, "O Sol da Meia-Noite, uma Viagem ao País das Maravilhas" e 1983, "A Grande Constelação das Estrelas Negras". Foi ainda na agremiação nilopolitana que João produziu o seu maior carnaval e até hoje considerado o maior desfile da história. Em 1989, no auge das críticas por seu luxo, ele fez "Ratos e Urubus, larguem minha fantasia" (vídeo acima), e encheu a avenida de lixo e mendigos. Sua ideia de levar um cristo mendigo para a avenida foi proibida pela igreja, mas ele se saiu com mais uma genialidade: cobriu a escultura com um plástico preto e fixou uma faixa com os dizeres, "Mesmo Proibido, Olhai por Nós". Foi vice-campeão.

Quando todos acreditavam que o auge de Joãozinho Trinta havia passado, ele deu mais uma prova ao conquistar o carnaval tratando novamente da criação do mundo. "Trevas! Luz! A Explosão do Universo", já na Viradouro, onde ficou até o ano 2000. Na Grande Rio foram quatro carnavais e o último trabalho foi na Vila Isabel no ano de 2005. João concebeu, entre escolas do Grupo Especial e no Acesso, um total de 37 carnavais. Saiu vencedor 11 vezes e foi vice-campeão em outras oito oportunidades. E para rebater os críticos que o consideravam muito elitista, João disse a célebre frase, "Quem gosta de miséria é intelectual, pobre gosta é de luxo". Gênio João !

domingo, 18 de dezembro de 2011

Muito mais que um clube

"Hoje nós aprendemos como se joga futebol". Esta declaração foi dada por Neymar logo após o fim da partida em que o Barcelona não teve piedade do Santos, enfiou 4 a 0 sem fazer forças e conquinstou seu segundo título Mundial Interclubes. A frase dita pelo garoto brasileiro demonstra uma humildade que pode até ser surpreendente, uma vez que o jovem prodígio é tido como arrogante. Neymar reconheceu a superioridade do adversário, que realmente deu uma aula de futebol.

Mas o Barcelona vai muito além do futebol. No clube que é o maior orgulho da Catalunha, comunidade autônoma da Espanha, localizada ao norte da Península Ibérica, as divisões de base são tão importantes quanto o time profissional. Tanto que o esquema de jogo que hoje encanta o mundo é treinado dentro de todas as categorias do clube. Cada treinador trabalha em conjunto com o comandante do time principal, que hoje é o ex-atleta do clube Josep Guardiola.


Recentemente, durante o Footecon, um diretor do Barcelona, Jordi Mestre, enfatizou que na base do Barcelona, além claro do futebol sempre visando o ataque, os jovens aprendem como funciona a filosofia do clube. Quem não se enquadrar está fora. Tanto que no Barcelona raramente se vêem aquelas contratações milonárias que abalam as estruturas, como nos acostumamos a ver por exemplo no maior rival do Barça: o Real Madrid.

O Centro de Treinamento do Barcelona é o La Masia, que demorou mais de 30 anos para ser finalizado. E o clube tem uma política de contratar jovens estrangeiros (ou espanhois) ainda muito jovens e implementar nos garotos a filosofia de jogo do clube. Quase uma questão ideológica. O resultado? Dos 14 jogadores que atuaram no massacre diante do Santos, nada mais que 11 deles se formaram no Barcelona. Apenas o brasileiros Daniel Alves, o argentino Javier Mascherano e o francês Éric Abidal não surgiram em La Masia. É ou não é, muito mais que um clube de futebol?

sábado, 17 de dezembro de 2011

O buraco é bem mais embaixo

Santos e Barcelona duelam neste domingo em um dos confrontos mais esperados deste século pelo mundo do futebol. Quem vencer conquistará o topo do mundo. Claro que ninguém é louco em não creditar o total favoritismo ao Barcelona nesta partida. Os espanhois hoje jogam o melhor futebol do mundo, possuem o craque do momento (Messi é o maior jogador do planeta inquestionavelmente) e uma equipe muito competitiva, com um futebol envolvente e bonito.

Mas como diriam os antigos, devagar com o andor pois o santo é de barro. Ou seria o Santos? Trocadilhos à parte, relembremos as outras passagens do Barcelona pelo Mundial? Campeão em 2009 pela única vez derrotando os argentinos do Estuadiantes. E vice contra dois brasileiros: o São Paulo em 1992 e o Internacional em 2006. Nesta última decisão todos se lembram quem era o franco favorito? Pois é.

A realidade é que o último clube brasileiro derrotado por um europeu em um Mundial foi o Palmeiras em 1999. De lá pra cá, o São Paulo superou o Liverpool em 2005 e o Inter o Barça em 2006, como citado acima. Até hoje foram 13 confrontos entre brasileiros e europeus nos Mundiais  de Clubes. Os brasileiros saíram vitoriosos oito vezes e os europeus cinco. Nem sempre a força econômica dos rivais do velho continente determina vitórias dentro das quatro linhas.


Também é verdade que a imprensa espanhola trata o Santos com um enorme respeito, mais até do que nossa própria mídia, que só falta entregar a taça ao Barcelona. Eu vejo que este respeito tem um responsável: Neymar. O garoto foi decisivo na vitória do Santos sobre o Kashiwa e uma manchete do jornal Munmdo deportivo evidencia o respeito: "Neymar dá o cartão de visitas ao Barça".

Os espanhois são francos favoritos! Possuem Messi, Xavi, Iniesta e uma constelação de estrelas capaz de vencer o Santos ou qualquer adversário do mundo quantas vezes forem necessárias. Entretanto em um jogo único, tudo pode acontecer. E os brasileiros também possuem jogadores de talento. Não acharei nenhum absurdo se o Brasil sair do Japão novamente campeão do mundo!

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

1981, o ano que não terminou!

Em seus 116 anos recheados de glórias, não há um torcedor do Flamengo sequer que ouse discordar de que 1981 (o 69º da história do futebol no Fla) foi o grande ano do clube da maior torcida do país. Foi a coroação da maior geração da história do rubro-negro que culminou com a conquista do título mundial em Tóquio, há exatos 30 anos atrás, em partida histórica diante do Liverpool, da Inglaterra. O Fla venceu por 3 a 0 não oferecendo qualquer chance de reação ao então campeão europeu.

Mas 1981 começa bem antes deste jogo épico para o Flamengo e sua torcida. A partir de agora o Blog Futebol e Samba fará uma espécie de viagem no tempo, onde vamos relembrar como foi esse ano na política, nos esportes, na cultura e claro para o Flamengo. Afinal 1981 não terminou ainda para os flamenguistas!

1981: Ditadura agoniza e economia estoura

Em sua primeira página da edição de 1º de janeiro de 1981 a Folha de São Paulo trazia como manchete: "Déficit de U$$ 3,3 bilhões supera previsão". Sim, o propalado milagre econômico, bandeira do regime militar, estava cobrando seu preço e o Brasil fechava 1980 com este enorme rombo em sua balança comercial. O primeiro dia de 1981 também trouxe a palavra do então Papa João Paulo II, como sempre pedindo paz no mundo e lembrando as tragédias ocorridas na Itália no ano anterior, como um atentado terrorista em Bolonha e um terromoto no sul do país, que vitimou 3 mil pessoas de forma fatal. No início de 1981, a seleção brasileira de futebol estava envolvida no Mundialito do Uruguai, que tinha equipes de ponta como Argentina e Alemanha. O Brasil acabou derrotado na decisão para o Uruguai. E o Flamengo cedeu dois atletas para aquela competição: os campeões brasileiros no ano anterior Tita e Júnior!



As notícias de economia e política pouco ou nada interferiam na euforia dos flamenguistas, que comemoraram em 1980 seu primeiro título brasileiro. Mas nem tudo eram flores não! No Estadual o Fla, que lutava pelo inédito tetra, sequer chegou à finalíssima, que foi vencida pelo Fluminense em decisão contra o Vasco. O gol do título foi marcado pelo zagueiro Edinho. Foi a 24ª conquista do então hegemônico tricolor!

1981 começou de fato para os rubro-negros no dia 14 de janeiro. Um amistoso no Morumbi contra o São Paulo, que havia investido pesado em reforços, sendo o principal deles o lateral-esquerdo Marinho Chagas, que teve brilhantes passagens por Botafogo e Fluminense nos anos 70. A renda do jogo seria revertida para a construção do Memorial JK, que foi construído na capital federal: Brasília! E a temporada começou bem para os rubro-negros: vitória de 2 a 0 com gols de Adílio e Nunes.

Naquela época o calendário de competições era diferente. No primeiro semestre era disputado o Campeonato Brasileiro e assim que terminava o torneio nacional tinha início o Estadual. E paralelamente a Taça Libertadores, quem também era disputada no segundo semestre. Portanto, para os rubro-negros o ano começava com a esperança do bi no Brasileirão. Mas a concorrência não seria nada mole!

No Brasileirão a primeira frustração

O Rio já respirava ares carnavalescos naquele janeiro de 81. E o carnaval carioca vivia o apogeu do gênero samba-enredo. Depois do triplo empate (Imperatriz, Beija-Flor e Portela) no carnaval de 80, os sambas de Portela ("Das Maravilhas do mar fez-se o esplendor de uma noite") e Imperatriz ("O teu cabelo não nega: só dá lalá"). Naquele ano o carnaval aconteceu já no mês de março, com os desfiles sendo realizados ainda na Avenida Marquês de Sapucaí, sem o sambódromo. A Imperatriz foi bicampeã e entrou de vez para o hall das grandes. Mas o antológico samba portelense teria ainda grande influência neste ano rubro-negro, como veremos à frente!

O Brasileirão-81 teve início no dia 18 de janeiro para os então campeões brasileiros. Naquele tempo o torneio era disputado por muito clubes e com fórmulas mirabolantes. Na primeira fase o Fla fora sorteado no Grupo D, ao lado dentre outros clubes (foram 10 no total) dos tradicionais Santos, Cruzeiro, Paysandu, Fortaleza e Santa Cruz. Os rubro-negros avançaram à fase seguinte com a segunda melhor campanha da chave, onde passaram sete clubes.

Na segunda fase novamente os doi principais times do Brasil iriam se pegar: Flamengo e Atlético-MG, finalistas de 80. Azar de Uberlândia e Colorado-RS, que cruzararam com os gigantes. O Flamengo venceu um dos confrontos com o Galo (2x1, no Rio) e empatou o outro (0x0, em BH) e encaminhou a vaga de melhor do grupo. Mas uma inesperada derrota para o Colorado (4x0) marcou aquela campanha.

Começava então a fase de mata-mata. O Flamengo encontrou-se com o Bahia e realizou a primeira partida em Salvador, diante de quase 70 mil pessoas na Fonte Nova e arrancou o empate por 0 a 0. No jogo de volta, no Rio, venceu por 2 a 0 com dois gols de Nunes, que mostrou em 1981 fazer jus ao apelido de artilheiro das decisões.

Restavam as oito principais equipes do Brasil para a fase de quartas de final. E quis o destino que os rivais, Flamengo e Botafogo se cruzassem. Justo o clube que foi o algoz da geração de Zico quando eram torcedores. No jogo de ida um 0x0 para um Maracanã lotado. Na partida de volta deu Botafogo: 3 a 1, com direito a dois gols de Mendonça. Morria ali o sonho do bi para o Fla. O Botafogo caiu na semifinal diante do São Paulo, que fez a final contra o Grêmio, vencida pelo gaúchos. A sensação de eliminar o poderoso Flamengo do Brasileiro iria se transformar em pesadelo para os botafoguenses no segundo semestre!

A má campanha rubro-negra no Brasileiro fez o clube demitir o treinador Modesto Bria, que assumira o lugar de Claudio Coutinho no final de 1980. Para o lugar de Bria foi contratado Dino Sani, que teve brilhante carreira como jogador, tendo atuado por clubes como Corinthians, São Paulo e o Milan-ITA. Sani comandou o Flamengo até julho, quando o então recém aposentado como jogador Paulo César Carpegiane assumiu o comando da equipe e ficou até o fim da temporada.

O Brasil fervilhava no final do primeiro semestre de 1981. Acuados com o crescimento da ala "moderada" dos militares, a famosa "linha dura", responsável pelos anos de chumbo e barbárie entre 1968 e 1974, protagonizou o chamado último ato de ataque às liberdades individuais visto no regime ditatorial brasileiro. Em 30 de abril de 1981, como era costume, um show comemorava no Riocentro, Rio de Janeiro, o Dia do Trabalho, comemorado em 01º de maio. Entretanto uma bomba explodiu em um carro antes do início da festa. O artefato era para ter entrado em ação dentro dos pavilhões, o que seria uma tragédia sem precedentes. O atentado tinha a intenção de culpar a esquerda e o público foi informado no fim do show com a célebre frase de Gonzaguinha: "Pessoas contra a democracia jogaram bombas lá fora para nos amedrontar."

Antes da Libertadores, dois títulos "amistosos"

Futebol, carnaval e novelas. As três grandes paixões do brasileiro. No ano de 1981 a Rede Globo levou ao ar duas grandes produções que são lembradas até hoje: Baila Comigo (de Manoel Carlos) e Brilhante (de Gilberto Braga), nomes de peso na teledramaturgia brasileira até hoje. Mas foi na TV Bandeirantes que foi exibido o grande sucesso da teledramaturgia brasileira em 81: Os Imigrantes estreou em abril e só terminou em novembro de 1982, com 452 capítulos, se tornando uma das novelas mais longas da história. 

Mas após o Brasileiro, os jogadores do Flamengo não tiveram tempo de acompanhar as novelas. Até o fim dos anos 80, com menos partidas nos calendários anuais, era comum os clubes excursionarem por outros países para valorizarem a marca. Em 81 o Flamengo disputou dois torneios amistosos e se sagrou campeão! O primeiro deles foi a Copa de Punta del Leste (Uruguai), derrotando o Peñarol (3x0) e após empatar com o Grêmio (1x1) e também na disputa de pênaltis, o Fla foi consagrado o campeão no sorteio.

Em junho, já em meio ao início da disputa do Estadual, o Fla viajou à Itália para o Torneio Internacional de Nápoles. Os cariocas não tomaram conhecimento dos adversários e sapecaram 5x1 no Avelino e 5x0 no Napoli. Zico terminou como artilheiro da competição com quatro gols e pode ter despertado ali o interesse dos italianos, já que foi negociado para o futebol de lá três anos depois.

Na Libertadores, o encontro com um velho conhecido

Flamengo e Atlético Mineiro eram, indiscutivelmente, as grandes forças do futebol brasileiro na temporada 1981. Por terem feito a final do Brasileirão no ano anterior, estavam automaticamente classificados para a Libertadores de 1981. Naquela época eram 21 participantes. O Uruguai, por ter o campeão do ano anterior (Nacional), contava com três representantes e os demais países apenas 2. Outra nuance daquela época era a divisão dos grupos por países: Galo e Flamengo dividiram a chave com os paraguaios Cerro Porteño e Olimpia.

O Flamengo estreou no dia 03 de julho, enfrentando o Atlético em mais um jogaço para a história do confronto: 2 a 2 no Mineirão. Ainda na primeira fase o Fla goleou o Cerro por 5 a 2 no Rio e por 4 a 2 no Paraguai. Nos duelos contra o Olimpia foram dois empates: 1 a 1 no Rio e 0 a 0 em Assunção. O jogo que definiria a vaga (naquela época apenas uma equipe avançava) à fase final aconteceria no Rio entre os grandes rivais dos anos 80. Diante de pouca mais de 62 mil pessoas um novo empate em 2 a 2. Com o placar em branco na primeira etapa, o que se viu no segundo tempo foi um teste para cardíacos! Palhinha abriu o placar para os mineiros aos 17 minutos. Mas o Fla virou com Nunes e Tita em sete minutos. Com o Maraca ainda em festa o craque Reinaldo empatou e deu números finais ao duelo.

Jogo desempate: a polêmica de Goiânia

Naquela época o regulamento da Libertadores não previa os famosos critérios de desempate que acontecem hoje. Como Fla e Galo terminaram empatados com oito pontos em seis jogos, uma partida extra foi marcada para um campo neutro. O palco escolhido foi o estádio Serra Dourada, em Goiânia. Local onde tanto Flamengo quanto Atlético tem boa quantidade de torcedores. A partida foi marcada para o dia 21 de agosto de 1981. 70 mil pessoas estiveram presentes em um jogo que parece não ter terminado até hoje!

Mas o que era para ser mais uma batalha épica na história dos duelos entre cariocas e mineiros se transformou em uma das maiores polêmicas da história do futebol brasileiro e sul-americano. O jogo transcorria normalmente até os 33 minutos do primeiro tempo, quando Reinaldo deu um carrinho por trás em Zico e foi expulso. Os atleticanos protestaram por considerarem que um amarelo seria mais justo para o lance.

O jogo reiniciou normalmente com a ausência do craque atleticano. Até que o árbitro José Roberto Wright expulsou também o meio-campo do Atlético Éder por reclamação, após uma falta marcada a favor do clube mineiro. A partir deste momento o que se viu foi uma confusão generalizada dentro do campo no Serra Dourada, com os dirigentes e a comissão técnica do Atlético ameaçando retirar seus jogadores do gramado, por entenderem que árbitro carioca estaria beneficiando o Flamengo.

Durante a confusão ainda foram expulsos Palhinha, Chicão e Osmar, todos do Atlético-MG. Com a falta do número legal mínimo de jogadores exijido pela regra o árbitro José Roberto Wright encerrou a partida. O tribunal da Conmebol manteve o placar de 0 a 0, mas declarou o Flamengo classificado para a Fase Final da Copa Libertadores 1981. Decisão que os atleticanos não engolem até hoje, trinta anos depois.

A Segunda Fase da Libertadores

Se hoje em dia os Estaduais são verdadeiras chatices, há 30 anos atrás arrisco-me a afirmar que eles eram tão ou mais importantes que o Brasileiro e a Libertadores. E em 1981 a segunda fase da competição continental coincidiu com a dispua do segundo turno do Cariocão, o que não havia ocorrido no primeiro. Como o Fla havia vencido a primeira parte do torneio local, o foco ficou todo voltado para a Libertadores. O Vasco acabou como campeão do segundo turno do Carioca. Dos seis times restantes na competição continental, apenas os uruguaios Nacional e Peñarol metiam "medo" no Fla. E quis o destino que eles caíssem na mesma chave, longe dos cariocas.

O grupo do rubro-negro era uma molezinha. Tinha o Deportivo Cáli (COL) e Jorge Wilsterman (BOL). E o Flamengo atropelou os dois facilmente. Contra os colombianos vitória de 1 a 0 em Cáli e de 3 a 0 no Rio. Diante dos bolivianos, vitória por 2 a 1 em Cochabamba e uma goleada acachapante por 4 a 1 no Rio. Estava o Flamengo classificado à final da Libertadores! E o adversário não seria nenhum dos rivais uruguaios. O chileno Cobreloa surpreendeu os tradicionais clubes e ficou com a vaga. Rubro-negros aliviados com o Flamengo virtual favorito? A final seria uma batalha que iria desmistificar esta tese!

Novembro: o mês mais intenso da história do Flamengo

Emoções, perdas, conquistas e batalhas. Palavras que poderiam definir os 30 dias do mês de novembro para o Flamengo. O mês começava para os rubro-negros no dia de Finados (02/11), quando o Fla enfrentou o América na abertura do Terceiro Turno do Estadual. Se Flamengo ou Vasco fossem campeões, eles decidiriam o título. Caso outro clube levasse haveria um triangular final. O Fla bateu o Mequinha na estreia por 4 a 0 no Maracanã.

A ansiedada ainda tomava conta da torcida rubro-negra na 3ª rodada do 3º Turno do Estadual, já que em 13 de novembro o Fla começaria a decidir a Libertadores contra o Cobreloa. Entretanto o dia 08 de novembro tem lugar especial nesta epopeia que foi o ano de 1981. O Flamengo enfrentaria o Botafogo, a quem ainda não havia derrotado na temporada, tendo inclusive caindo no Brasileiro para o rival. Mas os alvinegros receberam neste dia o troco daquela goleada aplicada em 1972 no dia do aniversário do Flamengo. Pois nove anos depois, Zico(duas vezes), Nunes, Adilio, Lico e Andrade ajudaram o Flamengo a devolver aqueles 6 a 0. Mais um dia épico para os rubro-negros em ano inesquecível!


Na partida seguinte pelo Estadual, o já treinador Carpegiane (ele encerrara a carreira de jogador ao longo do ano e assumira o lugar de treinador do técnico Dino Sani) não quis saber de poupar ninguém contra o Americano, já que o primeiro joga da final seria no Rio. Resultado? Flamengo 6 a 1 no time de Campos. Terminada a partida era chegada a hora: o Flamengo iria enfrentar um dos principais jogos de sua história.

13 de novembro de 1981: 93 mil espectadores no velho Maracanã! Na primeira partida decisiva contra o Cobreloa, a superioridade técnica do Flamengo prevaleceu. Zico abriu o placar aos 11 minutos de jogo e ampliou o marcador aos 30, de pênalti. Os chilenos diminuíram o placar já na segunda etapa com Merello, aos 22 minutos. Bastava ao Fla um empate no Chile para conquistar a América.

Entretanto havia antes o Fluminense pelo Carioca. E, ao contrário do que se vê nos dias de hoje, o Flamengo queria ganhar tudo, sem essa de poupar. E no Fla-Flu vitória tranquila por 3 a 1, do ex-treinador rubro-negro Dino Sani. O Fla encaminhava o título do 3º Turno para decidir contra seu arqui-rival Vasco. Mas antes veio a batalha de Santiago.

Precisando de um empate para ser o grande campeão da Libertadores de 1981, o Flamengo encontrou um clima hostil no Estádio Nacional. O Chile também enfrentava uma ditadura e os soldados à beira do gramado foram bastante agressivos com os rubro-negros. Dentro de campo uma guerra: o zagueiro Mario Soto deu uma pedrada no rosto de Adílio, em uma atitude covarde que evidencia o que o Flamengo viveu. O jogo terminou 1 a 0 para o Cobreloa, gol de Merello, quem também havia marcado no jogo do Maracanã. Com uma vitória para cada lado, um jogo extra foi marcado para 23 de novembro no Uruguai, campo neutro.

No jogo final, o Flamengo encontrou um clima bem mais ameno e entrou no gramado do Estádio Centenário com uma bandeira do Uruguai. Sem a valentia que os chilenos só demonstraram jogando em Santiago, o Flamengo impôs o seu melhor futebol e fez 1 a 0 com Zico aos 17 minutos de jogo. O Galinho ampliou (de falta) aos 32  da segunda etapa, dando números finais à partida. Mas faltava vingar Adílio e dar o troco em Mario Soto. Carpegiane colocou em campo Anselmo única e exclusivamente para acertar o zagueiro chileno, e ele cumpriu a missão. Resultado? Andrade e Anselmo (Flamengo) e Alarcón, Jiménez e Mario Soto (Cobreloa) expulsos. E daí? A América era rubro-negra pela primeira vez!


27 de novembro: A perda do mestre


Ainda em meio às comemorações da conquista inédita da Copa Libertadores, os atletas do Flamengo receberam uma triste notícia. O mentor daquele grande time, Cláudio Coutinho, faleceu após morrer afogado praticando caça submarina nas ilhas Cagarras, na praia de Copacabana, Zona Sul do Rio de Janeiro. 


Coutinho chegou ao Flamengo na temporada 1976, depois de passar pelo rival Vasco. Não obteve sucesso e nem títulos nesta primeira passagem. Mesmo assim deixou o Fla para assumir a seleção brasileira, que dirigiu entre 1977 e 1980, tendo sido o treinador do Brasil durante a Copa de 1978, vencida pela Argentina. Entre 1978 e 1980 conciliou o cargo de técnico da nossa seleção com a volta ao Flamengo. No clube rubro-negro conquistou, dentre outros títulos, três campeonatos cariocas e um brasileiro. Sua morte causou comoção nos atletas do Flamengo, que ganharam mais um incentivo para a grande batalha do ano: ganhar o Mundial e homenagear o mestre!


Antes do Japão, o Vasco e o ladrilheiro


Em 1981 Flamengo e Vasco decidiram o Estadual, depois que os rubro-negros foram campeões do primeiro e terceiro turnos e os cruzmaltinos levaram o segundo turno. Por ter ganho dois turnos, bastava ao Fla vencer uma partida para se sagrar campeão. O Vasco teria de vencer três vezes o grande rival para ficar com o título. Até hoje as partidas memoráveis são lembradas nos anais do "Clássico dos Milhões".


O Vasco venceu o primeiro jogo em 29 de novembro pelo placar de 2 a 0, forçando assim uma segunda partida, que foi disputada no dia 02 de dezembro: deu Vasco de novo, 1 a 0. O que era improvável, se tornou real: o Gigante da Colina chegava na grande final tendo vencido o grande rival duas vezes, tendo um time bem inferior!


Mas no dia 06 de dezembro um jogo épico deu o caneco ao Flamengo. Diante de 170 mil pessoas no Maracanã o campeão da América fez 1 a 0 com o meia Adílio, aos 20 minutos da primeira etapa. Nunes, o artilheiro das decisões, ampliou o marcador apenas quatro minutos depois. Quando a torcida do Fla comemorava a conquista, Ticão diminuiu para o Vasco, aos 38 minutos do segundo tempo. Empolgado, o Gigante da Colina partiu para cima em busca do empate que lhe daria o título.


Entretanto, logo em seguida, o torcedor Roberto Passos Pereira invadiu o gramado, paralizando a partida e esfriando os ânimos dos vascaínos. Depois de cinco minutos de partida parada, o jogo reiniciou, mas era tarde: o Flamengo venceu, foi campeão mais uma vez em 1981 e o torcedor Roberto entrou para a história como o ladrilheiro.




No Japão, a catarse: FLAMENGO CAMPEÃO DO MUNDO


O elenco do rubro-negro embarcou para o Japão, até então um misterioso país, em busca de um feito que apenas o Santos de Pelé havia conquistado, entretanto em um formato diuferente: havia um jogo no Brasil e outro no país do adversário. Pela primeira vez o título do Mundial de Clubes seria decidido em um jogo único no Japão, no Estádio Nacional, em Tóquio capital japonesa.


O adversário do Flamengo seria o Liverpool-ING, que na temporada 1980-81 conquistou a Liga dos Campeões da Europa, eliminando, dentre outros adversários, os tradicionais Bayern de Munique-ALE e o Real Madrid-ESP, na final, disputada no estádio Párc des Princes em Paris. Foi a terceira conquista do clube inglês, que ainda foi campeão europeu nas temporadas 1983-84 e 2004-05.



No dia 13 de dezembro de 1981, ao meio-dia na hora do Japão (meia-noite no horário brasileiro) o Flamengo entrou em campo com Raul, Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico, para o jogo mais importante de seus até então 86 anos de história. Segundo os jogadores brasileiros, enquanto eles faziam a tradicional reza antes de entrarem em campo, alguns atletas ingleses riram e caçuaram do momento do time rubro-negro. Se soubessem o preço que pagariam por isso, teria ficado quietos.


O Flamengo não deu chances ao adversário. Ainda com 13 minutos de jogo, Nunes (sempre ele) abriu o placar após lançamento genial de Zico. O João Danado tocou na saída do desengonçado goleiro inglês Grobbelaar. Aos 34 o Galinho cobrou falta com veneno e o goleiro do Liverpool bateu roupa. Esperto, o meia Adílio aproveitou, marcando o segundo do Flamengo. Para matar de vez os ingleses a pá de cal veio novamente com Nunes, aos 41 minutos. De novo passe de Zico de maneira magistral, e o artilheiro das grandes decisões entrou em velocidade na área inglesa chutando forte e dando números finais à partida: 3 a 0.

Enquanto o Flamengo administrava o resultado confortavelmente no segundo tempo lá no Japão, aqui no Brasil a maior torcida do Brasil comemorava um título que apenas o Santos de Pelá havia conquistado nos anos 60. No Rio, festa pelas ruas e lá no oriente, depois do final da partida os jogadores do Flamengo transformaram o Estádio Nacional de Tóquio em uma verdadeira Marquês de Sapucaí, entoando o samba sensação do verão: "Bumbum Paticumbum Prugurundum", que viria a ser campeão do carnaval com o Império Serrano, já em 1982.

13 de dezembro de 1981! Depois de 30 anos o Blog Futebol e Samba homenageia o Flamengo e sua imensa nação com a íntegra daquela partida épica. Raul, Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico. Os jogadores que jogaram a partida que parece não ter terminado. Para a torcida rubro-negra 1981 não terminou mesmo e jamais terminará!

 

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Balanço Final - Brasileirão 2011

Em um esporte tão movido à paixão como o futebol é difícil para o torcedor entender e aceitar que o adversário foi melhor e por isso terminou como campeão. Não dá para questionar a justiça do título do Corinthians no Campeonato Brasileiro, a quinta conquista da história do clube paulista. O Timão liderou 27 das 38 rodadas da competição, o que configura em 75% de toda a competição. Além disso foi quem mais conquistou vitórias (21) e terminou como a melhor defesa: 36 gols sofridos. Contra fatos não há argumentos.

O Campeonato Brasileiro de 2011 foi o mais emocionante da era dos pontos corridos. Trouxe de volta a força do futebol carioca, que em 2012 pela primeira vez na história terá três representantes na Libertadores, mesmo com o fracasso do Botafogo na reta final. E se por um lado os cariocas renasceram, os mineiros precisam mudar tudo para voltarem a ter alguma glória. E os cruzeirenses que não se iludam com a surra que deram no Atlético, pois o ano de ambos foi vergonhoso.


Como sempre faço antes do início da competição, no post de abertura deste Brasileirão apostei em Cruzeiro, Santos e Inter para brigarem pelo título, com Flamengo, São Paulo e Corinthians brigando por fora. O Cruzeiro foi a grande decepção do ano e o Santos acabou abdicando do Brasileiro por causa do Mundial. O Inter fez uma campanha decepcionante, mas acabou saindo no lucro com a última vaga na Libertadores. O Flamengo, que chegou a brigar pelo título, mostrou que seu elenco era para no máximo terminar entre os quatro. E o São Paulo precisa fazer uma bela faxina, pois também fez um campeonato medíocre, ficando longe da Libertadores pelo segundo ano consecutivo.

Dentre os clubes que caíram (Avaí, América-MG, Atlético-PR e Ceará) vale ressaltar que apenas o Coelho veio da Segundona em 2010. Isso demonstra que as equipes que subiram estão começando a entender que para permanecer na elite é preciso muito mais que um time, mas sim um elenco. Das equipes que subiram em 2010, apenas o Bahia correu riscos. Figueirense e Coritiba chegaram a brigar pela Libertadores até a última rodada. Que sirva de aprendizado para Portuguesa, Ponte Preta, Náutico e Sport, times tradicionais.

Em 2012 a Sul-Americana terá São Paulo, Figueirense, Coritiba, Botafogo, Palmeiras, Grêmio, Atlético-GO e Bahia. Exceção feita aos tricolores paulistas e aos alvinegros cariocas, os demais clubes acabaram lucrando com uma vaga em um torneio internacional, pelo menos se formos analisar os elencos e os planejamentos iniciais de cada um deles no início do ano. Cruzeiro e Atlético-MG permanecem na Série A em 2012, mas ficaram fora da Sul-Americana e têm que melhorar muito para a próxima temporada, como eu já disse acima.

A Seleção do Campeonato Brasileiro, para o Futebol e Samba:

Na festa da CBF, realizada nesta segunda (05/12), a entidade escolheu os melhores do campeonato. A minha seleção ficou com algumas divergências em relação ao time "oficial". Abaixo os meus melhores, com um breve comentário:

Goleiro: Júlio César (Corinthians) - Foi decisivo em várias partidas do Corinthians, evitando derrotas e garantindo alguns pontinhos preciosos. Felipe (Flamengo) e Marcelo Lomba (Bahia) também merecem destaque!

Lateral-Direito: Fágner (Vasco) - Em um campeonato sem nenhum grande destaque nesta posição, o jovem talento vascaíno demonstrou alguma qualidade. Bruno (Figueirense) também mereceu a indicação.

Quarto-Zagueiro: Dedé (Vasco) - Campeonato irretocável do "mito", como dizem os vascaínos. Se mantiver a postura pés no chão, pode chegar onde quiser.

Zagueiro-Central: Réver (Atlético-MG) - Em minha opinião é o grande zagueiro em atividade no futebol brasileiro. No mar de mediocridade que foi o Galo em 2011, ele conseguiu se destacar.

Lateral-Esquerdo: Cortês (Botafogo) - Caiu na reta final, como todo o time do Botafogo, mas mesmo assim foi o melhor nesta posição pra mim. Júnior César (Flamengo) também realizou boa competição.

Primeiro-Volante: Paulinho (Corinthians) - Foi o grande responsável pela proteção à zaga corinthiana, a menos vazada da competição. Seu companheiro Ralf também fez boa competição.

Segundo-Volante: Renato (Botafogo) - O melhor volante do futebol brasileiro. A melhor fase do Botafogo no campeonato passou obrigatoriamente pelo bom momento do Renato. Allan e Rômulo (ambos do Vasco) também foram muito bem.
Meia-Direita: Diego Souza (Vasco) - Em alguns momentos foi o craque da competição. Reencontrou seu futebol no Vasco. Destaco também Thiago Neves (Flamengo) e Alex (Corinthians).

Atacante 01: Neymar (Santos) - Os poucos grandes momentos do Santos foram com Neymar. O craque do ano, o craque do campeonato e o autor de um dos gols mais sensacionais que eu já vi, na partida épica contra o Flamengo. Ronaldinho (Flamengo) fez bom primeiro turno, mas caiu na reta final.

Atacante 02: Borges (Santos) - Foi o artilheiro do campeonato, tendo disputado muito menos jogos que a maioria dos concorrentes. Leandro Damião (Internacional) também fez excelente competição.

Atacante 03: Fred (Fluminense) - Assim como todo o Fluminense foi mal no primeiro turno, mas seu segundo turno foi notório. Marcou um gol por jogo durante a segunda parte da competição.

Treinador: Tite (Corinthians) - Montou a equipe mais competitiva do torneio, sem ter tantas peças pra isso. Suportou a pressão na má fase e conquistou seu primeiro título brasileiro. A dupla Ricardo Gomes e Critóvão (Vasco) também merece a honraria.

Revelação: Wellinton Nem (Figueirense) - O jogador do Fluminense, emprestado ao Figueira, foi o grande nome do time catarinense na surpreendente campanha.

Que venha a temporada 2012 para o futebol brasileiro, afinal o Santos ainda tem o Mundial!

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Análise do CD do Grupo Especial 2012

Enfim é chegado o momento que todo sambista e amante do carnaval tanto aguarda ao longo do ano, talvez até mais que a própria festa: o lançamento do CD oficial dos sambas-enredo do Grupo Especial. A festa acontece nesta quinta (01/12) na Cidade do Samba! E já posso adiantar a quem ainda não escutou: esta é a melhor safra dos últimos anos, um verdadeiro renascimento do gênero, que estava tão em segundo plano nas principais escolas.


Como vem ocorrendo desde 2010, a gravação foi feita ao vivo na Cidade do Samba. Desta vez eu achei que o som das baterias foi um pouco suprimido na maioria das faixas. Como eu disse na primeira análise dos sambas, aqui mesmo no Futebol e Samba, a gravação muda pra melhor (ou pior) alguns sambas e desta vez não foi diferente! Vamos à minha análise, pela ordem do CD:

01. Beija-Flor: Eu havia dito que essa junção foi ruim para a Beija-Flor e a versão do samba no CD evidencia esta tese. Na minha opinião é um samba arrastado demais e muito aquém do que a  escola e sua ala de compositores pode fazer. Além disso, a interpretação de Neguinho da Beija-Flor está irreconhecível. Seria o começo da decadência do mestre?

02. Unidos da Tijuca: O bom samba tijucano ficou muito bom na versão do CD. Achei que o timbre do intérprete Bruno Ribas fosse prejudicar o samba, mas ele se saiu muito bem. A melodia é muito bonita mesmo e a Tijuca tem um dos seus mais belos sambas dos últimos tempos.

03. Mangueira: A grande polêmica do CD de 2012 é fato de o samba mangueirense ter sido gravado à lá "We are the World", cheio de velhos nomes do Cacique de Ramos (enredo da escola), como Beth Carvalho, Sombrinha e Dudu Nobre. Eu achei excelente a ideia de Ivo Meirelles e mais uma vez ele prova que sua decisão ao escolher o samba foi acertada, pois a Mangueira tem um sambaço para 2012. Muito bom mesmo.

04. Vila Isabel: Outra obra prima para 2012. A parceria de André Diniz com Arlindo Cruz produziu um samba à altura do enredo de Angola e faz relembrar (e muito) o antológico Kizomba (de 1988). A Vila vai emocionar muito na avenida com um samba espetacular. Só tenho receio de que os contra-cantos presentes na parte final da obra façam o samba atravessar. Desafio para a direção de harmonia, capitaneada pelo vibrante Evandro Bocão.

05. Salgueiro: Esperava que o samba do Salgueiro crescesse com a gravação oficial, mas infelizmente me enganei. Acho que a escola da Tijuca se equivocou mesmo na escolha do samba e é a grande decepção deste período de pré-carnaval, ao lado da Beija-Flor. Mas como reza a tradição salgueirense, o refrão é forte. Entretanto o samba está muito longe da boa obra de 2011. 

06. Imperatriz: Como vem sendo uma constante na Imperatriz mais um excelente samba, um dos cinco melhores com certeza. Dominguinhos do Estácio prova que dentro do estúdio ele é um mestre. Só tenho receio de que ele não consiga manter o ritmo durante o desfile, o que seria uma pena pois a escola de Ramos tem um samba lindo!

07. Mocidade: A escola de Padre Miguel, depois de produzir uma boa safra entre 2008 e 2010, vem sofrendo um pouco para escolher seus sambas. O presidente Paulo Vianna escolheu o samba à revelia da vontade da comunidade, o que pode ser fatal em uma escola tão dividida. O samba não é de todo ruim, tem um refrão forte e na minha visão é melhor que o de 2011, mas inferior aos sambas do triênio que eu citei acima.

08. Porto da Pedra: Disparado o pior samba do ano, destoando da boa safra para 2012. Também o que esperar de uma agremiação que escolhe como enredo o iogurte. Não há ala de compositores que dê jeito né! Escola favorita para cair, aliás nem sei o que fazem no Grupo Especial!

09. São Clemente: À primeira audição eu não gostei do samba da São Clemente pois achava a parceria do Eugênio Leal melhor. Mas confesso que agora, na versão do CD, o samba cresceu muito. Arrisco-me a falar que foi o samba mais bem gravado dentre todos. E uma obra que tem a marca de irreverência da escola da Zona Sul. Samba animado para quem abre a segunda noite de desfiles.

10. Grande Rio: Ouço muita gente criticando o samba da Grande Rio para 2012! De fato, é bem inferior às obras de 2010 e 2011, mas não acho que seja tão fraco não. O que pega é que o enredo é bem piegas mesmo, falando sobre a superação e o incêndio que a escola enfrentou este ano. O refrão tem uma melodia legal, mas o samba é mediano.

11. Portela: A grande obra-prima deste século. Sim, a Portela tem o seu melhor samba-enredo desde o lendário "Abram Alas" de 1995. E me arrisco a dizer que este samba é o melhor que já foi produzido desde o início deste novo século (em 2001). Melodia linda, letra de arrepiar, refrões fortes e uma interpretação estupenda de Gilsinho em uma gravação fantástica! A Portela fará muita gente se emocionar no carnaval.

12. União da Ilha: Assim como a Beija-Flor fez, a Ilha também juntou as parcerias finalistas. Mas neste caso o resultado foi menos desastroso na minha opinião. A agremiação insulana foi a que mais valorizou o som da bateria em sua gravação e o refrão central misturando feijoada com molho inglês e chá com caxaça (já que o enredo é uma ponte aérea Rio-Londres) ficou genial. E é animado, marca rehgistrada da Ilha.

13. Renascer de Jacarepaguá: A escola estreante no Grupo Especial escolheu um samba ideal para abrir os desfiles: tem que ser animado, senão a escola se arrasta e o rebaixamento é certo. É difícil a permanência da agremiação, já que este ano duas vão cair. Mas o artista plástico Romero Brito será homenageado com um samba valente, muito bem cantado pelo Rogerinho Renascer e que vai abrir com chave de ouro o carnaval 2012!