segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O telespectador do outro lado

Estreia hoje, as 21h, a nova trama do horário nobre da Globo. "Viver a Vida" é a 14ª trama com a assinatura de Manoel Carlos (incluindo minisséries, casos especiais e novelas) na emissora do Jardim Botânico. Integrante do primeiro time de autores globais - ao lado de Glória Perez, Gilberto Braga, Benedito Rui Barbosa, Silvio de Abreu e Aguinaldo Silva - Maneco, como é conhecido, gosta de falar, em suas tramas, de assuntos que poderiam muito bem ser tratados numa conversa na sala da casa de vários brasileiros, ou simplesmente numa mesa de bar.

Maneco: um cronista do cotidiano!

É por isso que Manoel Carlos, na minha visão, é o maior autor contemporâneo da TV brasileira. Seu mote principal é a verossimilhança que ele procura imprimir nas suas histórias. Uma pausa para explicar verossimilhança: segundo a enciclopédia virtual Wikipédia, "é o atributo daquilo que parece intuitivamente verdadeiro, isto é, o que é atribuído a uma realidade portadora de uma aparência ou de uma probabilidade de verdade, na relação ambígua que se estabelece entre imagem e ideia". Ou seja, e o ato do telespectador se ver (ou ver a alguém muito próximo) dentro da trama de Maneco.

Helena, vivida por Vera Fischer, em "Laços de Família". A trama mais marcante de Maneco.

Para ficar ainda mais simples, vamos analisar a sinopse de "Viver a Vida": Helena (que desta vez será interpretada de maneira inédita por uma jovem, negra e linda Taís Araújo) é uma modelo de sucesso que se resolve se entregar para uma paixão aos 30 anos. O felizardo é Marcos (José Mayer), um homem maduro recém saído de um casamento de 3 décadas. Marcos é pai de Luciana (Alinne Moraes), a grande concorrente de Helena nas passarelas. A vida de todos os personagens muda quando Luciana sofre um grave acidente e fica paraplégica.

Regina Duarte. Recordista de "Helenas".

Essa história contada acima pode facilmente ser encontrada em inúmeras famílias brasileiras. Com personagens diferentes, claro. Como poderíamos, também, encontrar a tal verossimilhança de Maneco na trágica história de Camila, magistralmente interpretada por Carolina Dieckman em "Laços de Família". Quem não se emocionou na cena em que ela raspa os cabelos, após descobrir-se portadora de leucemia?

Quem não se lembra do drama das 3 Helenas vividas por Regina Duarte, em "História de Amor", "Por Amor" e "Páginas da Vida", respectivamente? Ou a mulher infeliz em seu casamento vivida por Cristiane Torloni em "Mulheres Apaixonadas"? E a mãe que abre mão de um amor e é capaz de engravidar, "apenas", para salvar a vida da filha, em "Laços de Família"?

Taís Araújo, linda, como uma diferente Helena, em "Viver a Vida".

Manoel Carlos traz, em suas tramas, o telespectador para dentro da telinha. Ele se vê na história que está sendo contada. Talvez por isso acompanhe o drama dos personagens capítulo a capítulo. Cena a cena. Afinal, aquela poderia ser a história da vida dele. O mote publicitário da novela "Laços de Família" deveria ser adotado para todas as tramas de Maneco. "Essa história poderia ser a história da sua vida".

Manoel Carlos conta a história de cada brasileiro em suas tramas. Por isso faz tanto sucesso. "Viver a Vida" há de seguir o mesmo caminho. E o telespectador, pelos próximos meses, suspirará com os dramas de mais uma Helena na vida de Maneco. E na vida de cada brasileiro.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Competência e Competitividade

Não gosto do Dunga. Mas devo começar este post fazendo um mea culpa. Quando Dunga foi anunciado, em 2006, como o novo comandante da seleção brasileira achei que não ia dar certo. Achava, e ainda acho, que para chegar à seleção, o sujeito tem de ter uma vasta e vitoriosa carreira de treinador. Decididamente Dunga não tinha este currículo. Sem contar o seu rancor e mau humor no trato das pessoas, mas isso é assunto para uma outra conversa.

O fato é que Dunga calou a todo mundo que duvidava de sua competência, inclusive eu. Desde que acompanho futebol, esta é a seleção brasileira mais competitiva que eu já vi. Mais até que as vitoriosas de 1994 (contestada até hoje) e de 2002 (muito questionada até o início do Mundial). O Brasil não perde um jogo desde junho de 2008 (derrota de 2 a 0 para o Paraguai). São 19 jogos sem conhecer uma derrota. 11 vitórias consecutivas. Outro detalhe: sempre que enfrentou adversários de peso, o Brasil não tomou conhecimento de tais adversários. Goleou Itália (3x0) e Portugal (6x2) e venceu a Argentina, em Rosário, por 3 a 1, onde não vencia desde 75.

Dunga: aos poucos ele demonstrou sua competência.

Outro mérito para Dunga. Apostou em novas caras que só o próprio Dunga acreditava. Ao fim do Mundial de 2006, por motivos óbvios, todos eram ávidos por uma renovação. Ela veio. Mas todo mundo criticou. E Dunga bancou nomes como Daniel Alves, Elano, Gilberto Silva, Felipe Mello e Luís Fabiano. Se hoje estes nomes são inquestionáveis, à época em que foram convocados pela primeira vez, foram muito criticados. O treinador repeliu do contato do grupo, ainda, nomes como Ronaldo, Ronaldinho e Adriano (que só retornou agora) . Tudo em prol do grupo.

Outro mérito de Dunga. O técnico ganha os seus comandados no discurso. Faz com que os jogadores deem um gás a mais em cada jogo, por ele, pelo Dunga. Como Felipão fez em 2002. Temos a versão 2010 da família Scolari. è bom lembrar que Felipão deixou de fora do mundial de 2002 niguém menos que Romário, melhor atacante brasileiro disparada na época. Tudo pelo bem do grupo. Como fez Dunga. Adriano conseguiu voltar, porque se enquadrou. Ronaldinho e Ronaldo estão fora, porque não se enquadraram. E duvido que um dos dois retorne à seleção tão cedo.

Show de Nilmar contra o Chile. A Seleção está impecável.

A verdade é que a seleção de Dunga não joga bonito. Não dá espetáculo. Não enche os olhos da torcida. Tem volantes em excesso. Mas vence. Ganha títulos. Se classificou para a Copa com 3 rodadas de antecedência. Isto é ser competitivo, é ser competente. Dunga é ranzinza e rancoroso. Mas é competente. E será campeão mundial. Podem apostar.