terça-feira, 15 de março de 2011

Lei de Muricy

No ano de 1976 o já ex-jogador Gérson, o canhotinha de ouro, fez uma propaganda de cigarro em que afirmava gostar de levar vantagem em tudo. A repercussão, óbviamente foi negativa, e o fato acabou recebendo a alcunha de Lei de Gérson, expressão criada para pessoas que tentam sempre tirar vantagens de qualquer situação. Mais de 30 anos depois o futebol brasileiro convice com uma outra lei: a Lei de Muricy, bem inversa à de Gérson. Muricy Ramalho, até domingo técnico do Fluminense, bradava aos sete ventos dois mantras: "Não se vence sem estrutura" e "Eu jamais romperei um contrato".

Pois bem, o ex-comandante tricolor deixou o clube em que foi campeão brasileiro pela quarta vez alegando que seus objetivos, pelo menos extra-campo, não puderam ser alcançados, uma vez que ele não conseguiu impor no clube a estrutura segundo ele necessária para se vencer. Entretanto, Muricy rompeu com uma de suas mais fortes premissas: abandonou o barco em pleno curso das águas, apesar de ter afirmado que romper contrato é deixar um clube para acertar com outro. Falácias do Mura. Romper um contrato é simplesmente deixar de cumprí-lo até o seu final.

Eu entendo que estrutura e condições de trabalho são importantes no atual estágio de profissionalização do futebol, mas devagar com a louça. Afinal, os últimos dois campeões brasileiros têm estrutura inferior a clubes de terceira divisão. Ou Flamengo e Fluminense podem se orgulhar de suas instalações? Estrutura pode ajudar muito e eu até acredito que seja verdade, mas o que vence mesmo é jogador.


Não acredito que a saída de Muricy esteja atrelada exclusivamente à falta de estrtura do tricolor. Não tenho qualquer informação, o que escrevo são apenas impressões minhas e eu trabalho com duas hipóteses. A primeira, Muricy sentiu que não classificaria o Flu na Libertadores e poderia pagar mico no Estadual e, com medo de ser taxado de treinador de segundo semestre mais uma vez, pulou fora. A segunda, e na minha visão mais concreta, é que o treinador foi contratado na gestão Horcades e, assim como o ex-vice de futebol, Alcides Antunes, foi alijado do clube por divergências políticas com a nova diretoria, capitaneada pelo presidente Peter Siemsem, opositor ferrenho do ex-presidente.

Não é apenas estrutura que falta ao Flu. Falta autonomia a uma diretoria refém das cifras de Celso Barros e sua milionária Unimed. Uma política equivocada, uma vez que privilegia a contratação de estrelas e seus salários astronômicos, em detrimento do aproveitamento das joias que surgem a cada ano em Xerém e que são vendidas a preço de banana para pagar os ordenados de Freds, Decos, Bellettis e outros jogadores chinelinho.

Posso estar errado, mas o início de 2011 do Fluminense me lembra muito o ano de 2010 do Flamengo, então campeão nacional, assim como o tricolor. A direção que assumiu não teve peito para retirar o então comando do futebol e só o fez quase no meio do Estadual e da Libertadores, exatamente como acontece agora no Flu. Todos sabem no que deu tal covardia. Que a torcida do tricolor não passe pelo mesmo calvário dos rubro-negros ano passado. Vamos aguardar.

Um comentário:

Mauricio Motta disse...

Concordo quando vc diz sobre os dois últimos campeões nacionais, mas sinto que Muricy não se senta bem com a falta de palavra dos dirigentes do Fluminense.
A saída de Alcides Antunes pode ter deixado o treinador sozinho.