terça-feira, 13 de dezembro de 2011

1981, o ano que não terminou!

Em seus 116 anos recheados de glórias, não há um torcedor do Flamengo sequer que ouse discordar de que 1981 (o 69º da história do futebol no Fla) foi o grande ano do clube da maior torcida do país. Foi a coroação da maior geração da história do rubro-negro que culminou com a conquista do título mundial em Tóquio, há exatos 30 anos atrás, em partida histórica diante do Liverpool, da Inglaterra. O Fla venceu por 3 a 0 não oferecendo qualquer chance de reação ao então campeão europeu.

Mas 1981 começa bem antes deste jogo épico para o Flamengo e sua torcida. A partir de agora o Blog Futebol e Samba fará uma espécie de viagem no tempo, onde vamos relembrar como foi esse ano na política, nos esportes, na cultura e claro para o Flamengo. Afinal 1981 não terminou ainda para os flamenguistas!

1981: Ditadura agoniza e economia estoura

Em sua primeira página da edição de 1º de janeiro de 1981 a Folha de São Paulo trazia como manchete: "Déficit de U$$ 3,3 bilhões supera previsão". Sim, o propalado milagre econômico, bandeira do regime militar, estava cobrando seu preço e o Brasil fechava 1980 com este enorme rombo em sua balança comercial. O primeiro dia de 1981 também trouxe a palavra do então Papa João Paulo II, como sempre pedindo paz no mundo e lembrando as tragédias ocorridas na Itália no ano anterior, como um atentado terrorista em Bolonha e um terromoto no sul do país, que vitimou 3 mil pessoas de forma fatal. No início de 1981, a seleção brasileira de futebol estava envolvida no Mundialito do Uruguai, que tinha equipes de ponta como Argentina e Alemanha. O Brasil acabou derrotado na decisão para o Uruguai. E o Flamengo cedeu dois atletas para aquela competição: os campeões brasileiros no ano anterior Tita e Júnior!



As notícias de economia e política pouco ou nada interferiam na euforia dos flamenguistas, que comemoraram em 1980 seu primeiro título brasileiro. Mas nem tudo eram flores não! No Estadual o Fla, que lutava pelo inédito tetra, sequer chegou à finalíssima, que foi vencida pelo Fluminense em decisão contra o Vasco. O gol do título foi marcado pelo zagueiro Edinho. Foi a 24ª conquista do então hegemônico tricolor!

1981 começou de fato para os rubro-negros no dia 14 de janeiro. Um amistoso no Morumbi contra o São Paulo, que havia investido pesado em reforços, sendo o principal deles o lateral-esquerdo Marinho Chagas, que teve brilhantes passagens por Botafogo e Fluminense nos anos 70. A renda do jogo seria revertida para a construção do Memorial JK, que foi construído na capital federal: Brasília! E a temporada começou bem para os rubro-negros: vitória de 2 a 0 com gols de Adílio e Nunes.

Naquela época o calendário de competições era diferente. No primeiro semestre era disputado o Campeonato Brasileiro e assim que terminava o torneio nacional tinha início o Estadual. E paralelamente a Taça Libertadores, quem também era disputada no segundo semestre. Portanto, para os rubro-negros o ano começava com a esperança do bi no Brasileirão. Mas a concorrência não seria nada mole!

No Brasileirão a primeira frustração

O Rio já respirava ares carnavalescos naquele janeiro de 81. E o carnaval carioca vivia o apogeu do gênero samba-enredo. Depois do triplo empate (Imperatriz, Beija-Flor e Portela) no carnaval de 80, os sambas de Portela ("Das Maravilhas do mar fez-se o esplendor de uma noite") e Imperatriz ("O teu cabelo não nega: só dá lalá"). Naquele ano o carnaval aconteceu já no mês de março, com os desfiles sendo realizados ainda na Avenida Marquês de Sapucaí, sem o sambódromo. A Imperatriz foi bicampeã e entrou de vez para o hall das grandes. Mas o antológico samba portelense teria ainda grande influência neste ano rubro-negro, como veremos à frente!

O Brasileirão-81 teve início no dia 18 de janeiro para os então campeões brasileiros. Naquele tempo o torneio era disputado por muito clubes e com fórmulas mirabolantes. Na primeira fase o Fla fora sorteado no Grupo D, ao lado dentre outros clubes (foram 10 no total) dos tradicionais Santos, Cruzeiro, Paysandu, Fortaleza e Santa Cruz. Os rubro-negros avançaram à fase seguinte com a segunda melhor campanha da chave, onde passaram sete clubes.

Na segunda fase novamente os doi principais times do Brasil iriam se pegar: Flamengo e Atlético-MG, finalistas de 80. Azar de Uberlândia e Colorado-RS, que cruzararam com os gigantes. O Flamengo venceu um dos confrontos com o Galo (2x1, no Rio) e empatou o outro (0x0, em BH) e encaminhou a vaga de melhor do grupo. Mas uma inesperada derrota para o Colorado (4x0) marcou aquela campanha.

Começava então a fase de mata-mata. O Flamengo encontrou-se com o Bahia e realizou a primeira partida em Salvador, diante de quase 70 mil pessoas na Fonte Nova e arrancou o empate por 0 a 0. No jogo de volta, no Rio, venceu por 2 a 0 com dois gols de Nunes, que mostrou em 1981 fazer jus ao apelido de artilheiro das decisões.

Restavam as oito principais equipes do Brasil para a fase de quartas de final. E quis o destino que os rivais, Flamengo e Botafogo se cruzassem. Justo o clube que foi o algoz da geração de Zico quando eram torcedores. No jogo de ida um 0x0 para um Maracanã lotado. Na partida de volta deu Botafogo: 3 a 1, com direito a dois gols de Mendonça. Morria ali o sonho do bi para o Fla. O Botafogo caiu na semifinal diante do São Paulo, que fez a final contra o Grêmio, vencida pelo gaúchos. A sensação de eliminar o poderoso Flamengo do Brasileiro iria se transformar em pesadelo para os botafoguenses no segundo semestre!

A má campanha rubro-negra no Brasileiro fez o clube demitir o treinador Modesto Bria, que assumira o lugar de Claudio Coutinho no final de 1980. Para o lugar de Bria foi contratado Dino Sani, que teve brilhante carreira como jogador, tendo atuado por clubes como Corinthians, São Paulo e o Milan-ITA. Sani comandou o Flamengo até julho, quando o então recém aposentado como jogador Paulo César Carpegiane assumiu o comando da equipe e ficou até o fim da temporada.

O Brasil fervilhava no final do primeiro semestre de 1981. Acuados com o crescimento da ala "moderada" dos militares, a famosa "linha dura", responsável pelos anos de chumbo e barbárie entre 1968 e 1974, protagonizou o chamado último ato de ataque às liberdades individuais visto no regime ditatorial brasileiro. Em 30 de abril de 1981, como era costume, um show comemorava no Riocentro, Rio de Janeiro, o Dia do Trabalho, comemorado em 01º de maio. Entretanto uma bomba explodiu em um carro antes do início da festa. O artefato era para ter entrado em ação dentro dos pavilhões, o que seria uma tragédia sem precedentes. O atentado tinha a intenção de culpar a esquerda e o público foi informado no fim do show com a célebre frase de Gonzaguinha: "Pessoas contra a democracia jogaram bombas lá fora para nos amedrontar."

Antes da Libertadores, dois títulos "amistosos"

Futebol, carnaval e novelas. As três grandes paixões do brasileiro. No ano de 1981 a Rede Globo levou ao ar duas grandes produções que são lembradas até hoje: Baila Comigo (de Manoel Carlos) e Brilhante (de Gilberto Braga), nomes de peso na teledramaturgia brasileira até hoje. Mas foi na TV Bandeirantes que foi exibido o grande sucesso da teledramaturgia brasileira em 81: Os Imigrantes estreou em abril e só terminou em novembro de 1982, com 452 capítulos, se tornando uma das novelas mais longas da história. 

Mas após o Brasileiro, os jogadores do Flamengo não tiveram tempo de acompanhar as novelas. Até o fim dos anos 80, com menos partidas nos calendários anuais, era comum os clubes excursionarem por outros países para valorizarem a marca. Em 81 o Flamengo disputou dois torneios amistosos e se sagrou campeão! O primeiro deles foi a Copa de Punta del Leste (Uruguai), derrotando o Peñarol (3x0) e após empatar com o Grêmio (1x1) e também na disputa de pênaltis, o Fla foi consagrado o campeão no sorteio.

Em junho, já em meio ao início da disputa do Estadual, o Fla viajou à Itália para o Torneio Internacional de Nápoles. Os cariocas não tomaram conhecimento dos adversários e sapecaram 5x1 no Avelino e 5x0 no Napoli. Zico terminou como artilheiro da competição com quatro gols e pode ter despertado ali o interesse dos italianos, já que foi negociado para o futebol de lá três anos depois.

Na Libertadores, o encontro com um velho conhecido

Flamengo e Atlético Mineiro eram, indiscutivelmente, as grandes forças do futebol brasileiro na temporada 1981. Por terem feito a final do Brasileirão no ano anterior, estavam automaticamente classificados para a Libertadores de 1981. Naquela época eram 21 participantes. O Uruguai, por ter o campeão do ano anterior (Nacional), contava com três representantes e os demais países apenas 2. Outra nuance daquela época era a divisão dos grupos por países: Galo e Flamengo dividiram a chave com os paraguaios Cerro Porteño e Olimpia.

O Flamengo estreou no dia 03 de julho, enfrentando o Atlético em mais um jogaço para a história do confronto: 2 a 2 no Mineirão. Ainda na primeira fase o Fla goleou o Cerro por 5 a 2 no Rio e por 4 a 2 no Paraguai. Nos duelos contra o Olimpia foram dois empates: 1 a 1 no Rio e 0 a 0 em Assunção. O jogo que definiria a vaga (naquela época apenas uma equipe avançava) à fase final aconteceria no Rio entre os grandes rivais dos anos 80. Diante de pouca mais de 62 mil pessoas um novo empate em 2 a 2. Com o placar em branco na primeira etapa, o que se viu no segundo tempo foi um teste para cardíacos! Palhinha abriu o placar para os mineiros aos 17 minutos. Mas o Fla virou com Nunes e Tita em sete minutos. Com o Maraca ainda em festa o craque Reinaldo empatou e deu números finais ao duelo.

Jogo desempate: a polêmica de Goiânia

Naquela época o regulamento da Libertadores não previa os famosos critérios de desempate que acontecem hoje. Como Fla e Galo terminaram empatados com oito pontos em seis jogos, uma partida extra foi marcada para um campo neutro. O palco escolhido foi o estádio Serra Dourada, em Goiânia. Local onde tanto Flamengo quanto Atlético tem boa quantidade de torcedores. A partida foi marcada para o dia 21 de agosto de 1981. 70 mil pessoas estiveram presentes em um jogo que parece não ter terminado até hoje!

Mas o que era para ser mais uma batalha épica na história dos duelos entre cariocas e mineiros se transformou em uma das maiores polêmicas da história do futebol brasileiro e sul-americano. O jogo transcorria normalmente até os 33 minutos do primeiro tempo, quando Reinaldo deu um carrinho por trás em Zico e foi expulso. Os atleticanos protestaram por considerarem que um amarelo seria mais justo para o lance.

O jogo reiniciou normalmente com a ausência do craque atleticano. Até que o árbitro José Roberto Wright expulsou também o meio-campo do Atlético Éder por reclamação, após uma falta marcada a favor do clube mineiro. A partir deste momento o que se viu foi uma confusão generalizada dentro do campo no Serra Dourada, com os dirigentes e a comissão técnica do Atlético ameaçando retirar seus jogadores do gramado, por entenderem que árbitro carioca estaria beneficiando o Flamengo.

Durante a confusão ainda foram expulsos Palhinha, Chicão e Osmar, todos do Atlético-MG. Com a falta do número legal mínimo de jogadores exijido pela regra o árbitro José Roberto Wright encerrou a partida. O tribunal da Conmebol manteve o placar de 0 a 0, mas declarou o Flamengo classificado para a Fase Final da Copa Libertadores 1981. Decisão que os atleticanos não engolem até hoje, trinta anos depois.

A Segunda Fase da Libertadores

Se hoje em dia os Estaduais são verdadeiras chatices, há 30 anos atrás arrisco-me a afirmar que eles eram tão ou mais importantes que o Brasileiro e a Libertadores. E em 1981 a segunda fase da competição continental coincidiu com a dispua do segundo turno do Cariocão, o que não havia ocorrido no primeiro. Como o Fla havia vencido a primeira parte do torneio local, o foco ficou todo voltado para a Libertadores. O Vasco acabou como campeão do segundo turno do Carioca. Dos seis times restantes na competição continental, apenas os uruguaios Nacional e Peñarol metiam "medo" no Fla. E quis o destino que eles caíssem na mesma chave, longe dos cariocas.

O grupo do rubro-negro era uma molezinha. Tinha o Deportivo Cáli (COL) e Jorge Wilsterman (BOL). E o Flamengo atropelou os dois facilmente. Contra os colombianos vitória de 1 a 0 em Cáli e de 3 a 0 no Rio. Diante dos bolivianos, vitória por 2 a 1 em Cochabamba e uma goleada acachapante por 4 a 1 no Rio. Estava o Flamengo classificado à final da Libertadores! E o adversário não seria nenhum dos rivais uruguaios. O chileno Cobreloa surpreendeu os tradicionais clubes e ficou com a vaga. Rubro-negros aliviados com o Flamengo virtual favorito? A final seria uma batalha que iria desmistificar esta tese!

Novembro: o mês mais intenso da história do Flamengo

Emoções, perdas, conquistas e batalhas. Palavras que poderiam definir os 30 dias do mês de novembro para o Flamengo. O mês começava para os rubro-negros no dia de Finados (02/11), quando o Fla enfrentou o América na abertura do Terceiro Turno do Estadual. Se Flamengo ou Vasco fossem campeões, eles decidiriam o título. Caso outro clube levasse haveria um triangular final. O Fla bateu o Mequinha na estreia por 4 a 0 no Maracanã.

A ansiedada ainda tomava conta da torcida rubro-negra na 3ª rodada do 3º Turno do Estadual, já que em 13 de novembro o Fla começaria a decidir a Libertadores contra o Cobreloa. Entretanto o dia 08 de novembro tem lugar especial nesta epopeia que foi o ano de 1981. O Flamengo enfrentaria o Botafogo, a quem ainda não havia derrotado na temporada, tendo inclusive caindo no Brasileiro para o rival. Mas os alvinegros receberam neste dia o troco daquela goleada aplicada em 1972 no dia do aniversário do Flamengo. Pois nove anos depois, Zico(duas vezes), Nunes, Adilio, Lico e Andrade ajudaram o Flamengo a devolver aqueles 6 a 0. Mais um dia épico para os rubro-negros em ano inesquecível!


Na partida seguinte pelo Estadual, o já treinador Carpegiane (ele encerrara a carreira de jogador ao longo do ano e assumira o lugar de treinador do técnico Dino Sani) não quis saber de poupar ninguém contra o Americano, já que o primeiro joga da final seria no Rio. Resultado? Flamengo 6 a 1 no time de Campos. Terminada a partida era chegada a hora: o Flamengo iria enfrentar um dos principais jogos de sua história.

13 de novembro de 1981: 93 mil espectadores no velho Maracanã! Na primeira partida decisiva contra o Cobreloa, a superioridade técnica do Flamengo prevaleceu. Zico abriu o placar aos 11 minutos de jogo e ampliou o marcador aos 30, de pênalti. Os chilenos diminuíram o placar já na segunda etapa com Merello, aos 22 minutos. Bastava ao Fla um empate no Chile para conquistar a América.

Entretanto havia antes o Fluminense pelo Carioca. E, ao contrário do que se vê nos dias de hoje, o Flamengo queria ganhar tudo, sem essa de poupar. E no Fla-Flu vitória tranquila por 3 a 1, do ex-treinador rubro-negro Dino Sani. O Fla encaminhava o título do 3º Turno para decidir contra seu arqui-rival Vasco. Mas antes veio a batalha de Santiago.

Precisando de um empate para ser o grande campeão da Libertadores de 1981, o Flamengo encontrou um clima hostil no Estádio Nacional. O Chile também enfrentava uma ditadura e os soldados à beira do gramado foram bastante agressivos com os rubro-negros. Dentro de campo uma guerra: o zagueiro Mario Soto deu uma pedrada no rosto de Adílio, em uma atitude covarde que evidencia o que o Flamengo viveu. O jogo terminou 1 a 0 para o Cobreloa, gol de Merello, quem também havia marcado no jogo do Maracanã. Com uma vitória para cada lado, um jogo extra foi marcado para 23 de novembro no Uruguai, campo neutro.

No jogo final, o Flamengo encontrou um clima bem mais ameno e entrou no gramado do Estádio Centenário com uma bandeira do Uruguai. Sem a valentia que os chilenos só demonstraram jogando em Santiago, o Flamengo impôs o seu melhor futebol e fez 1 a 0 com Zico aos 17 minutos de jogo. O Galinho ampliou (de falta) aos 32  da segunda etapa, dando números finais à partida. Mas faltava vingar Adílio e dar o troco em Mario Soto. Carpegiane colocou em campo Anselmo única e exclusivamente para acertar o zagueiro chileno, e ele cumpriu a missão. Resultado? Andrade e Anselmo (Flamengo) e Alarcón, Jiménez e Mario Soto (Cobreloa) expulsos. E daí? A América era rubro-negra pela primeira vez!


27 de novembro: A perda do mestre


Ainda em meio às comemorações da conquista inédita da Copa Libertadores, os atletas do Flamengo receberam uma triste notícia. O mentor daquele grande time, Cláudio Coutinho, faleceu após morrer afogado praticando caça submarina nas ilhas Cagarras, na praia de Copacabana, Zona Sul do Rio de Janeiro. 


Coutinho chegou ao Flamengo na temporada 1976, depois de passar pelo rival Vasco. Não obteve sucesso e nem títulos nesta primeira passagem. Mesmo assim deixou o Fla para assumir a seleção brasileira, que dirigiu entre 1977 e 1980, tendo sido o treinador do Brasil durante a Copa de 1978, vencida pela Argentina. Entre 1978 e 1980 conciliou o cargo de técnico da nossa seleção com a volta ao Flamengo. No clube rubro-negro conquistou, dentre outros títulos, três campeonatos cariocas e um brasileiro. Sua morte causou comoção nos atletas do Flamengo, que ganharam mais um incentivo para a grande batalha do ano: ganhar o Mundial e homenagear o mestre!


Antes do Japão, o Vasco e o ladrilheiro


Em 1981 Flamengo e Vasco decidiram o Estadual, depois que os rubro-negros foram campeões do primeiro e terceiro turnos e os cruzmaltinos levaram o segundo turno. Por ter ganho dois turnos, bastava ao Fla vencer uma partida para se sagrar campeão. O Vasco teria de vencer três vezes o grande rival para ficar com o título. Até hoje as partidas memoráveis são lembradas nos anais do "Clássico dos Milhões".


O Vasco venceu o primeiro jogo em 29 de novembro pelo placar de 2 a 0, forçando assim uma segunda partida, que foi disputada no dia 02 de dezembro: deu Vasco de novo, 1 a 0. O que era improvável, se tornou real: o Gigante da Colina chegava na grande final tendo vencido o grande rival duas vezes, tendo um time bem inferior!


Mas no dia 06 de dezembro um jogo épico deu o caneco ao Flamengo. Diante de 170 mil pessoas no Maracanã o campeão da América fez 1 a 0 com o meia Adílio, aos 20 minutos da primeira etapa. Nunes, o artilheiro das decisões, ampliou o marcador apenas quatro minutos depois. Quando a torcida do Fla comemorava a conquista, Ticão diminuiu para o Vasco, aos 38 minutos do segundo tempo. Empolgado, o Gigante da Colina partiu para cima em busca do empate que lhe daria o título.


Entretanto, logo em seguida, o torcedor Roberto Passos Pereira invadiu o gramado, paralizando a partida e esfriando os ânimos dos vascaínos. Depois de cinco minutos de partida parada, o jogo reiniciou, mas era tarde: o Flamengo venceu, foi campeão mais uma vez em 1981 e o torcedor Roberto entrou para a história como o ladrilheiro.




No Japão, a catarse: FLAMENGO CAMPEÃO DO MUNDO


O elenco do rubro-negro embarcou para o Japão, até então um misterioso país, em busca de um feito que apenas o Santos de Pelé havia conquistado, entretanto em um formato diuferente: havia um jogo no Brasil e outro no país do adversário. Pela primeira vez o título do Mundial de Clubes seria decidido em um jogo único no Japão, no Estádio Nacional, em Tóquio capital japonesa.


O adversário do Flamengo seria o Liverpool-ING, que na temporada 1980-81 conquistou a Liga dos Campeões da Europa, eliminando, dentre outros adversários, os tradicionais Bayern de Munique-ALE e o Real Madrid-ESP, na final, disputada no estádio Párc des Princes em Paris. Foi a terceira conquista do clube inglês, que ainda foi campeão europeu nas temporadas 1983-84 e 2004-05.



No dia 13 de dezembro de 1981, ao meio-dia na hora do Japão (meia-noite no horário brasileiro) o Flamengo entrou em campo com Raul, Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico, para o jogo mais importante de seus até então 86 anos de história. Segundo os jogadores brasileiros, enquanto eles faziam a tradicional reza antes de entrarem em campo, alguns atletas ingleses riram e caçuaram do momento do time rubro-negro. Se soubessem o preço que pagariam por isso, teria ficado quietos.


O Flamengo não deu chances ao adversário. Ainda com 13 minutos de jogo, Nunes (sempre ele) abriu o placar após lançamento genial de Zico. O João Danado tocou na saída do desengonçado goleiro inglês Grobbelaar. Aos 34 o Galinho cobrou falta com veneno e o goleiro do Liverpool bateu roupa. Esperto, o meia Adílio aproveitou, marcando o segundo do Flamengo. Para matar de vez os ingleses a pá de cal veio novamente com Nunes, aos 41 minutos. De novo passe de Zico de maneira magistral, e o artilheiro das grandes decisões entrou em velocidade na área inglesa chutando forte e dando números finais à partida: 3 a 0.

Enquanto o Flamengo administrava o resultado confortavelmente no segundo tempo lá no Japão, aqui no Brasil a maior torcida do Brasil comemorava um título que apenas o Santos de Pelá havia conquistado nos anos 60. No Rio, festa pelas ruas e lá no oriente, depois do final da partida os jogadores do Flamengo transformaram o Estádio Nacional de Tóquio em uma verdadeira Marquês de Sapucaí, entoando o samba sensação do verão: "Bumbum Paticumbum Prugurundum", que viria a ser campeão do carnaval com o Império Serrano, já em 1982.

13 de dezembro de 1981! Depois de 30 anos o Blog Futebol e Samba homenageia o Flamengo e sua imensa nação com a íntegra daquela partida épica. Raul, Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico. Os jogadores que jogaram a partida que parece não ter terminado. Para a torcida rubro-negra 1981 não terminou mesmo e jamais terminará!

 

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