segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

João Clemente Jorge Trinta

Gênios são aqueles que de alguma forma realizam seus feitos de forma diferente daquilo que nós esperamos. Entram para a história os indivíduos que, dentro de sua área de atuação, mudam para sempre a história, causando impacto e criando uma nova tendência. Todas estas características servem para descrever Joãozinho Trinta, sem a menor dúvida o maior carnavalesco da história do carnaval brasileiro.

Depois de anos lutando com problemas de saúde o genial artista dormiu para sempre. João conquistou nada menos que oito carnavais no grupo principal do carnaval carioca, sendo que cinco deles na Beija-Flor (76/77/78/80/83), dois no Salgueiro (74/75) e um na Viradouro (1997). Só que ele foi tão genial, que em muitos casos trabalhos seus que não foram campeões acabaram mais aclamados que os próprios vencedores.


Joãozinho veio muito jovem do Maranhão (sua terra natal) para o Rio sonhando ser bailarino do corpo principal do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Mas foi no carnaval que ele marcou seu nome na história da cultura brasileira. Levado para o Salgueiro por Arlindo Rodrigues nos anos 60, João ajudou a conceber os carnavais da agremiação tijucana junto com o próprio Arlindo, Fernando Pamplona e Maria Augusta.

Seu primeiro carnaval "solo" aconteceu em 1974. Com o enredo "O Rei da França na Ilha da Assombração", o Salgueiro foi o campeão, título que não vinha desde 1971. Joãozinho ainda conquistou o bi no ano seguinte com o enredo "O Segredo das Minas do Rei Salomão". Por divergências com a então direção salgueirense, Joãozinho se transferiu para a Beija-Flor de Nilópolis. E foi na agremiação da Baixada Fluminense que ele marcou para sempre o seu nome no carnaval.

Estreou sendo campeão com o enredo "Sonhar com rei dá Leão", em 1976. Venceu ainda em 1977 ("Vovó e o Rei da Saturnália na Corte Egipciana") e 1978 ("A criação do Mundo na Tradição Nagô"). Com esses títulos, João conquistou um inédito pentacampeonato, feito que ninguém ainda conseguiu igualar. Some-se a isso o fato de na época o carnaval conhecer apenas quatro escolas vencedoras: Portela, Mangueira, Império Serrano e Salgueiro. Joãozinho foi pioneiro também ao levar para o alto dos carros os luxuosos destaques, além de alegorias imensas. Vanguarda nos anos 70, praticamente praxe nos tempos atuais.

Joãozinho ficou na Beija-Flor até 1992, quendo deixou a agremição por divergências com a direção. Foram 16 carnavais ao todo. Antes de sair ele ainda foi campeão em 1980, "O Sol da Meia-Noite, uma Viagem ao País das Maravilhas" e 1983, "A Grande Constelação das Estrelas Negras". Foi ainda na agremiação nilopolitana que João produziu o seu maior carnaval e até hoje considerado o maior desfile da história. Em 1989, no auge das críticas por seu luxo, ele fez "Ratos e Urubus, larguem minha fantasia" (vídeo acima), e encheu a avenida de lixo e mendigos. Sua ideia de levar um cristo mendigo para a avenida foi proibida pela igreja, mas ele se saiu com mais uma genialidade: cobriu a escultura com um plástico preto e fixou uma faixa com os dizeres, "Mesmo Proibido, Olhai por Nós". Foi vice-campeão.

Quando todos acreditavam que o auge de Joãozinho Trinta havia passado, ele deu mais uma prova ao conquistar o carnaval tratando novamente da criação do mundo. "Trevas! Luz! A Explosão do Universo", já na Viradouro, onde ficou até o ano 2000. Na Grande Rio foram quatro carnavais e o último trabalho foi na Vila Isabel no ano de 2005. João concebeu, entre escolas do Grupo Especial e no Acesso, um total de 37 carnavais. Saiu vencedor 11 vezes e foi vice-campeão em outras oito oportunidades. E para rebater os críticos que o consideravam muito elitista, João disse a célebre frase, "Quem gosta de miséria é intelectual, pobre gosta é de luxo". Gênio João !

Nenhum comentário: