segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O samba-enredo volta a ser protagonista

Como era pule de dez no período de pré-carnaval, o antológico samba-enredo da Vila Isabel coroou a escola de Martinho da Vila ao terceiro campeonato de sua história. Um desfile memorável, que dosou emoção com a qualidade plástica de fantasias e alegorias, como nos acostumamos a ver nos trabalhos da carnavalesca Rosa Magalhães. Aliás, como este blogueiro havia dito há alguns dias se a Vila acertasse nos quesitos plásticos o campeonato era certo. E o que se viu na avenida foi um baile do povo de Noel.

O grande legado deixado pelos desfiles de 2013 certamente foi a volta do protagonismo daquele que é (ou deveria ser) a grande estrela desta festa, o samba-enredo. Se uma escola tem um samba de qualidade, fatalmente ele fará com que os quesitos de pista (conjunto, evolução, samba-enredo, bateria e harmonia) ganhem notas altas. A Vila, neste aspecto, só perdeu pontos em samba-enredo (absurdo 9,8 que ainda bem foi descartado) e bateria (onde acabou tirando somente uma nota 10). Talvez o panorama dos desfiles mude e as demais agremiações enxerguem que com um bom samba, meio caminho está andado.

Rosa e Martinho, doi grandes responsáveis pelo campeonato da Vila.  (Foto: Fábio Rossi - O Globo)


De negativo a meu ver nos desfiles de 2013 foram algumas comissões de frente. Os elementos alegóricos trazidos mais pareciam carros alegóricos propriamente. Em alguns casos o carro abre-alas, que sempre foi no aspecto visual a grande vedete dos desfiles, ficou escondido por esses trambolhos. Sem falar no casal de mestre-sala e porta-bandeira, totalmente ofuscados por essas engenhocas. O dragão que a Beija-Flor trouxe era assustadoramente enorme. Não sou contra este artifício, mas que eles poderiam ser bem menores, isso poderiam.

Outro aspecto que me chamou a atenção negativamente foram algumas guerras de ego de alguns intérpretes na avenida. Essa tendência que algumas escolas trazem de vir com dois, três e até quatro cantores principais e atrapalham a harmonia do desfile. Em pelo menos duas agremiações os puxadores mais se preocuparam em disputar quem cantava mais alto, do que de fato interpretar o samba. Na Imperatriz, Wander Pires e Dominguinhos do Estácio sequer se falam. Na Grande Rio, Emerson Rocha e Nego atropelaram um ao outro inúmeras vezes. Uma pena!
Abaixo traço um breve comentário sobre o que achei de cada agremiação na avenida, pela ordem de classificação:

1- Vila Isabel: Desfile épico, emocionante e arrebatador. Entra para história dos maiores de todos os tempo. Tanto que nenhuma adversária questionou. Parabéns Vila!

2- Beija-Flor: Vinha sendo "campeã" até o problema com o não acoplamento de duas alegorias, que deixaram um buraco histórico entre os setores 1 e 3. As escolas não aprendem. Nunca vi ninguém ganhar carnaval com acoplamento de carros, mas já vi perder. Aconteceu esse ano de novo.

3- Unidos da Tijuca: Houve uma certa boa vontade dos jurados com as muitas falhas da escola durante o desfile. Foi um dos trabalhos mais fracos de Paulo Barros. Enredo confuso, samba ruim. E ainda houve graves problemas de evolução. O terceiro lugar ficou de bom tamanho.

4- Imperatriz: A grande surpresa dos desfiles, conseguiu furar a barreira das favoritas. Merecia até ter terminado à frente da Tijuca. Pra mim o melhor conjunto alegórico do ano e também a melhor comissão de frente. Uma pena a guerra de egos dos puxadores, apesar do samba ter funcionado na avenida. E se vence o samba do Zé Katimba nas eliminatórias a Imperatriz brigaria pelo campeonato.

5- Salgueiro: A escola não fez um bom desfile, errando em aspectos básicos, como samba, enredo e na comissão de frente.  De positivo novamente o belo trabalho de acabento das alegorias de Renato Lage. Mas em 2013 o Salgueiro não empolgou.

6- Grande Rio: Um desfile horroroso e trash, que foi beneficiado pelo beneplácito dos jurados. Para mim a Grande Rio merecia no máximo um décimo lugar. Nada de positivo a destacar.

7- Portela: De novo um sambaço, de novo um show da bateria, de novo um baile da comunidade portelense nos quesitos de chão. Mas no aspecto visual um desastre, de novo. Aquela águia apresentada era para causar a queda do presidente ao mais humilde diretor. Que venham as eleições de maio e que a Portela mude.

8- Mangueira: A ousadia de Ivo Meirelles acabou castigada, apesar de ter enlouquecido a avenida com suas duas baterias. A escola estourou em seis minutos o tempo máximo de desfile. Acredito que a escola foi mal julgada pelos jurados nos quesitos plásticos. Belíssimo o trabalho de Cid Carvalho. Merecia a última vaga das campeãs.

9- União da Ilha: Pagou caro pela má escolha do samba, quando existiam outros muito melhores nas eliniatórias da escola. Conjunto visual muito bom, um dos melhores da história da escola. Que sirva de lição para 2014.

10- São Clemente: Não repetiu o bom desempenho de 2012. O enredo sobre as novelas tinha a cara da escola, mas as fantasias e carros estavam óbvios e comuns. Sem falar no samba muito fraco.

11- Mocidade: A escola está doida pra cair, a verdade é essa. Não vi quase nada de positivo no desfile deste ano. Enredo mal escolhido e mal retratado na avenida. Samba muito ruim. De notório apenas o desempenho da bateria, que lembrou os grandes momentos de Padre Miguel.

12- Inocentes de Belford Roxo: É duro se manter no Grupo Especial vindo do Acesso e abrindo os desfiles. A escola já entrou rebaixada e não fez um bom desfile. Lamentável as notas dadas ao casal de mestre-sala e porta-bandeira (Rogerinho e Lucinha Nobre), nitidamente julgados de acordo com a bandeira da escola. Isso precisa acabar no carnaval carioca.

Sobre o grupo de acesso, a nova Série A, o destaque foi para o julgamento isento e dentro das expectativas dos sambistas. O Império da Tijuca, ou Imperinho para os mais íntimos, foi a grande escola do grupo e com justiça retorna ao Grupo Especial, onde não desfilava desde 1996. Faz bem para a elite ter escolas de tradição desfilando. A briga pela permanência vai ser bem mais dura em 2014. 

Que venha o carnaval 2014! Evoé.....

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