segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Uma partida antológica!

Para contar a história do jogaço de ontem entre Flamengo e Fluminense, peço licença a dois torcedores ilustres dos clubes, que já não estão entre nós, infelizmente. O tricolor Nelson Rodrigues e o rubro-negro Bussunda. Vamos imaginar que os dois marcaram de ver a partida juntos lá no céu, regado à cerveja e tira-gosto de primeira!

Nem em seus mais delirantes sonhos, o dramaturgo e escritor tricolor, Nelson Rodrigues imaginaria um jogo tão épico como o que se viu ontem à noite no Maracanã, que aliás tem o nome de seu irmão, Mário Filho, criador do apelido Fla x Flu. Nelson certa vez escreveu que o Fla-Flu "começou 40 minutos antes do nada".

Nelson, se vivo fosse, começaria a tarde de ontem apreensivo, pois Fred, o principal jogador do tricolor fora vetado momentos antes de a bola rolar. Desconfiado, como sempre foi, Bussunda não ficaria muito aliviado, afinal a defesa do seu Flamengo já sofrera 6 gols na temporada, em 4 jogos.

Tensões pré-jogo à parte, não havia nenhum indício de que o jogo seria como foi. Aliás, jogos épicos sempre começam como um jogo num dia qualquer. Mas Allan, o jovem atacante tricolor, começou a nutrir na torcida tricolor um sentimento de que uma goleada poderia estar se desenhando. Ao receber passe de Diguinho, em posição legal, o atacante chutou no canto direito de Bruno. Flu 1 a 0. Mais que o resultado, eram emblemáticas as atuações de Fla e Flu. O primeiro, apático, entregue, perdido. O segundo, veloz, eficiente, técnico. Quando Conca marcou o segundo, de pênalti, aos 40, a apreensão tomou conta da porção rubro-negra no Maraca!

Conca comemora seu gol. Flu golearia?

Lá no céu, o encontro entre Bussunda e Nelson Rodrigues já rendia provocações que pareciam irreverssíveis. Afinal, o Flu vencia por 2 a 0 e jogava o suficiente para golear por mais. Mas, como no Fla x Flu nada é muito tranquilo ou ireverssível, Adriano diminuiu, também de pênalti, e deu um alento aos rubro-negros. Aliás, os 2 pênaltis foram muito bem marcados. Aos 42', parecia que o Sobrenatural de Almeida, personagem cunhado por Nelson para explicar as façanhas do Fla x Flu, estava vestido de verde, branco e grená ontem. Após chute de Cássio, a bola desvia na zaga do Fla e mata o goleiro Bruno. Flu 3 a 1.

Bussunda já estava era doido para que este famigerado jogo se encerrasse, quando fora lembrado por Nelson que em 2004, também pela 1ª Fase da Taça GB, o Flu vencia por 3 a 1 e também dava olé quando o Fla virou para 4 a 3, com show de Felipe e do lateral Roger, lembra?

Adriano abraçado pelos companheiros. Show do Imperador!

Pois bem, Bussunda foi convencido a pedir mais uma cerveja e uma nova rodada de frango à passarinho, desta vez por sua conta. Eis que começa o segundo tempo, e o mal que acomete o Fla no primeiro tempo, muda de lado no campo. Agora é o Fluminense que parece com sono e afim de entregar o ouro! As alterações de Andrade surtem efeito (ele fez entrar Vinícius Pacheco e Willians em lugar de Pet e Fernando) e o Fla volta endiabrado para a etapa complementar.

Aos 07' de jogo, Vágner Love mostra para Bussunda e toda a nação rubro-negra que o Sobrenatural de Almeida virara a casaca no intervalo e agora estampava as cores vermelha e preta! Em um bate rebate dentro da área tricolor a bola sobra para o artilheiro do amor e o Fla diminui. O jogo está aberto. No minuto seguinte, Kleberson acerta belo chute e empata o jogo. Bussunda se empolga e pede outra cerveja. Nelson Rodrigues já está arrependido de ter convencido o amigo a ficar.

Era nítida a superioridade do Flamengo no campo. Principalmente no que tange à motivação. O Fluminense parecia rezar para que o jogo acabasse e o empate se confirmasse. E os tricolores respiraram aliviados, quando Álvaro foi expulso aos 17 minutos. Segunda expulsão do zagueiro na temporada. Mas o pior ainda estava por vir na tarde-noite de gala no Maraca!

Bussunda nos deixou em 2006, no dia em que o Brasil enfrentaria a Austrália pela Copa do Mundo. Morreu vítima de seu coração apaixonado pelo Brasil e pelo Flamengo. Aquela seleção maltratava o coração do humorista. E Adriano estava naquela seleção. Ele tinha de se redimir. Tinha de mostrar para Bussunda que aquilo fora um acidente de percurso.

A partir de então começou o show de Adriano, que ontem justificou o seu apelido de Imperador. Aos 37 minutos, em um contra-ataque mortal, ele recebeu de Vinicius Pacheco dentro da área e só empurrou para o gol. O que parecia impossível se repetia 6 anos depois. O Fla vencia por 4 a 3! Uma virada histórica.

Quando Nelson já se levantava para ir embora e Bussunda, extasiado e embriagado se esbaldava em zoações e piadinhas infames, ambos viram o show de Adriano ser fechado com chave de ouro. Novo lançamento de Vinicius Pacheco para o imperador que, em posição legal, correu em direção ao gol e fechou o caixão do Flu. 5 a 3! Festa rubro-negra no Maracanã.

E mesmo sendo tricolor Nelson Rodrigues gostou do jogo. Afinal, foi um jogo com a cara do Fla x Flu. Histórico, cheio de alternativas, 8 gols, uma verdadeira peça teatral que parecia ter sido escrita por Nelson e Bussunda. É pena que os dois viram lá do céu a mais um Fla x Flu que ficará para sempre nos anais do Maracanã.

Uma partida antológica!

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