quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A gestão do carnaval

Terminou mais um carnaval, com a justa consagração da Unidos da Tijuca como a grande campeã de 2012. Mas este post não versará sobre o resultado deste ano, pois voltarei a este tema um pouco mais a frente quando a poeira do pós-carnaval baixar! O tema deste texto é sobre uma nova ordem que parece surgir dentro da história dos desfiles das escolas de samba!

Sim, pois o carnaval é uma festa mutável não apenas em seu calendário. Um dia resolveu-se colocar destaques no alto dos carros alegóricos. Em uma outra oportunidade foi tentado retirar das comissões de frente os baluartes para colocar danças e coreografias surpreendentes. E o carnaval 2012 marca uma nova era, mas fora da passarela: a nova gestão das escolas de samba!

Até os anos 70 o carnaval era dominado por quatro agremiações: Portela, Mangueira, Salgueiro e Império Serrano, que limitivam-se a emocionar o público com sambas-enredo antológicos. Mas em 1976 a Beija-Flor conquistou o título de maneira surpreendente com o enredo "Sonhar com Rei dá Leão", sobre o jogo do bicho, de autoria do genial Joãosinho Trinta. Homenagem do patrono da escola, Anísio de Abraão David a si mesmo e a seus colegas. Os bicheiros são sim responsáveis pela transformação do carnaval em um espetáculo grandioso e rentável. Criaram a LIESA, organizaram os desfiles e indiretamente pressionaram para o erguimento do Sambódromo. Têm seus méritos por isso.

Anísio desfilando na sua Beija-Flor

Entretanto o reinado destes verdadeiros "donos do carnaval" parece ter data para acabar. O lendário Castor de Andrade, da Mocidade Independente, já se foi. Anísio foi preso em uma mega-operação da Polícia Federal contra o jogo do bicho. Luizinho Drummond da Imperatriz Leopoldinense está foragido e não deve participar do processo sucetório de sua escola. Isso sem falar em Capitão Guimarães, ex-presidente da LIESA. Apenas para citar os bicheiros mais importantes da história do carnaval. Some-se a isso o fato de autoridades como o prefeito Eduardo Paes e o governador Sérgio Cabral exigirem o afastamento dos bicheiros do carnaval.

As chamadas três irmãs (Beija-Flor, Imperatriz e Mocidade) tiveram resultados pífios em 2012. Apenas a agremiação nilopolitana retornou no Sábado das Campeãs. A Mocidade, que está há 16 anos sem vencer, ficou em nono lugar e a Imperatriz, que não vence desde 2001, em décimo. Evidências da decadência da antiga gestão que tinha o poder dos bicheiros centralizados.

Fernando Horta e Regina Celi

Na contra-mão destas tradicionais agremiações estão as também tradicionais Unidos da Tijuca e Salgueiro, respectivamente campeã e vice de 2012. Nelas o sistema administrativo excluiu a figura dos patronos e elas são presididas de maneira profissional por Fernando Horta (Tijuca) e Regina Celi (Salgueiro). E como funciona esta gestão? Simples: as escolas exploram seu potencial turístico ao longo do ano com suas quadras sempre cheias, o que lhes permite apostar em profissionais do quilate de um Renato Lage ou um Paulo Barros. Garantia de sucesso.

Me parece claro que outras escolas parecem perceber que precisam prestar a atenção e mudar a forma de gestão. São Clemente e União da Ilha adotaram modelos semelhantres e fizeram belos carnavais, mantendo-se no Grupo Especial para 2013. No caso da escola de Botafogo o que se viu foi uma parceria de patrocínio com a Skol semelhante ao que nos acostumamos a ver no futebol.

 Parceria entre Skol e São Clemente rendeu um grande carnaval

Lá nos anos 70, as tradicionais Mangueira, Portela e Império Serrano recusaram-se a se adequar ao novo modelo que surgia. O resultado foi a escassez de títulos. Agora, início da segunda década do século XXI, uma nova era parece se apresentar ao mundo do samba. Quem conseguir embarcar vai despontar, quem ficar preso ao passado terá de conviver apenas com lembranças. 

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