terça-feira, 21 de setembro de 2010

Apenas uma escola de samba!

No último final de semana este blogueiro foi pela primeira vez à quadra do Império Serrano, lendária escola de samba de Madureira no subúrbio carioca. E o que tenho a dizer sobre o que presenciei nada tem a ver com bela estrutura, com ar-condicionado, acesso fácil, ou coisas do tipo. O que tenho a relatar é sobre um slogan que vi espalhado nos produtos oficiais da escola e por toda a quadra: "Uma escola de samba".

Pode parecer uma coisa meio óbvia, afinal o que mais seria do império, caso não fosse uma escola de samba? Mas nos dias de hoje em que o carnaval se transformou em um negócio em que a beleza estética suprime a emoção e a espontaneidade do componente, o slogan do Império é sim extremamente emblemático e manda um belo recado, como quem diz que "aqui se faz é samba, com emoção e carinho, em detrimento de estética ou tecnologia, ou afins.."

O Império serrano é uma escola que até bem pouco tempo detinha o título de terceira maior vencedora do carnaval carioca, com nove campeonatos, perdendo apenas para as tradicionalíssimas Portela e Mangueira. Mas o crescimento do carnaval espetáculo fez o Império perder este posto para a Beija-Flor, que já possui dez conquistas.


"Uma escola de Samba..."

O Império Serrano talvez seja a escola de samba do Rio que mais produziu sambas antológicos ao longo de seus 63 anos de uma gloriosa história. Quem não sabe cantar clássicos do quilate de "Exaltação a Tiradentes" (1949), "Aquarela Brasileira" (1964), "Cinco Bailes..." (1965), "Heróis da Liberdade" (1969), "Carmen Miranda" (1972), "Bumbum..." (1982), apenas para citar os mais famosos. Sem falar nos grandes artistas que saíram da Serrinha, nomes como Arlindo Cruz, Jorginho do Império, Dona Ivonne Lara, Roberto Ribeiro, Silas de Oliveira e Mano Décio da Viola.

Uma pena constatar que o Império não faz mais parte do grupo de escolas que disputam título no carnaval carioca. Talvez porque a própria escola tenha decidido seguir sua filosofia de apenas ser uma escola de samba e apenas disso. Não se vê nos desfiles do Império carros vultuosos, comissões de frente magistrais, bateria subindo em carro alegórico, rainhas de bateria globais e muito menos o luxo que acostumamos a ver no carnaval da década de 80 pra cá.

Se vê sim no Império sambas antológicos e uma comunidade absolutamente apaixonada e que canta essesas antologias até hoje, como ocorreu no último sábado, quando o lendário Jorginho do Império entoou os grandes sambas do Império e de demais escolas do Rio. É como diz um samba imperiano de 1982, ano em que a escola venceu pela última vez, e que manda um belo recado para as pessoas que comandam o carnaval atualmente: "Super Escolas de Samba S.A./Escondendo gente bamba, que covardia..."

2 comentários:

Mauricio Motta disse...

Emocionantea sua crônica. Você gostou mesmo de lá hein.
Daqui apouco terá relato da Rocinha por aqui também.
Seu Blog está muito mais para samba do quepara futebol. hahaha
Parabéns pelo texto
Abraços

José Renato Oliveira disse...

Parabéns pelo belo texto Guilherme.

Realmente, as escolas de samba estão abandonando suas origens e virando S/A´s.
Nunca fui na Império, apesar de ser colega do Mestre de bateria Gilmar.

Minha Mocidade ainda preza por esse tipo de procedimento.

Escolas de Samba sim!!! S/A´s jamais!!!!

Valeu e parabéns novamente!