sexta-feira, 27 de maio de 2011

Um gol para a história



Na manhã do dia 27 de maio de 2001, quem fosse às bancas e desse uma passada de olhos nos principais jornais do país poderia constatar que o Brasil vivia uma crise energética sem precedentes, quando a população deveria reduzir em 20% seus gastos com energia. Poderia também observar que uma crise política dentro do coração do Banco Central abalava a credibilidade do governo FHC, já em fase final. Quem vivia o brasil de 2001 sabia que o SBT ameaçava a Globo nas tardes de domingo, com o avanço do programa do Gugu na audiência. A Imperatriz Leopoldinense dominava o carnaval carioca, conquistando o primeiro tricampeonato da Era Sambódromo.

Mas naquele domingo nublado no Rio de Janeiro ninguém se interessava pelas notícias que eu citei acima. Os amantes do futebol queriam mesmo é ler sobre o jogaço que se avizinhava: mais uma decisão entre os arqui-inimigos Flamengo e Vasco. Dois clubes recheados de estrelas, mas que viviam uma crise. O então campeão do Brasil fora eliminado da Libertadores (a última que o Gigante da Colina disputou) e o rubro-negro sucumbiu na Copa do Brasil. O Vasco tinha a vantagem de perder por um gol de diferença para impedir o quarto tricampeonato estadual do Fla, uma vez que vencera a partida de ida por 2 a 1.

O jogo teve início no atípico horário de 15h, justamente para economizar a energia do Maracanã, uma vez que a crise energética não era brincadeira. O técnico do Flamengo, o experiente Zagallo, passara a semana dizendo que era primordial marcar um gol antes dos 15 minutos iniciais. Ele acabou não saindo, mas o Fla abriu o marcador no Maracanã aos 23 minutos da primeira etapa, depois que o lateral Cássio sofreu pênalti do finado Clebson. Edilson, o craque daquele Estadual, converteu: Flamengo 1 a 0.

O panorama do jogo se resumia a um Flamengo atacando muito, mas com organização e um Vasco bem postado na defesa e levando muito perigo nos contra-ataques. Os atacantes abusavam do direito de perder gols, o que geralmente é fatal contra o rubro-negro. Mesmo assim, o Vasco conseguiu empatar ainda na primeira etapa com Juninho Paulista. A torcida vascaína comemorara como se fosse o gol do título, que não vinha desde 1998.

Mas como diria dez anos depois, Ronaldinho Gaúcho, "Flamengo é Flamengo". E o plano do velho lobo Zagallo funcionou na segunda etapa. Edílson novamente botou o Fla em vantagem, aos oito minutos de jogo, depois de um crzamento antológico de Petkovic, que nem esperava estar a poucos minutos de entrar para a história eterna do Flamengo.

Desde o segundo gol o jogo se transformou em duelo de um time que atacava pois precisava marcar mais um e outro que se defendia desesperadamente, pois o resultado lhe garantiria o título. Tática suicida para se enfrentar o Flamengo. A torcida sentia e empurrava o clube. O Vasco se acovardava e abdicava de atacar. O futebol ensina que o medo de perder tira a vontade de ganhar.

No apagar das luzes, com o perdão do trocadilho que a época tinha um sentido todo especial, o sérvio que vivia às turras com os rubro-negros escreveu seu nome para sempre na história. Depois que Edílson mais uma vez sofreu falta na entrada da área, Petkovic cobrou de maneira magistral, não dando qualquer chance ao goleiro Hélton de efetuar a defesa. O gol que dava ao Flamengo o tri! E jogava o Vasco mais uma vez para o segundo lugar, pela terceira vez consecutiva.



Durante toda aquela semana viu-se na imprensa um Vasco soberbo e muito seguro de que impediria o tri do Fla. Até porquê convenhamos, a vantagem era sensivelmente considerável. Até pichações surgiram nos muros da Gávea, com os dizeres "Morte aos Sérvios" e "Beto Cachaça", em alusões claramente provocativas aos jogadores Beto e Petkovic. O futebol dava mais uma lição: não se provoca um gigante, por mais aparentemente morto que ele possa estar. 27 de maio 2001: o dia em que o maior templo do futebol mundial conheceu o poder de superação de Deján Petkovic!


Ficha Técnica da Partida:

Local: Maracanã, Rio de Janeiro.

Data: 27/05/2001.

Árbitro: Léo Feldman (RJ).

Público: 60.038 pagantes.

Advertências: Vasco: Helton, Jorginho Paulista, Juninho Paulista, Cleberson e Fabiano Eller; Flamengo: Juan e Beto.

Gols: Edílson (FLA) 23'/1ºT, Juninho Paulista (VAS) 40'/1ºT, Edílson (FLA)8'/2ºT e Petkovic (FLA) 43/2ºT.


VASCO: Helton, Clebson, Geder (Odvan), Torres e Jorginho Paulista; Fabiano Eller, Paulo Miranda, Pedrinho (Jorginho) e Juninho Paulista; Euller e Viola (Dedé). Técnico: Joel Santana.


FLAMENGO: Júlio César, Alessandro(Maurinho), Fernando, Juan, Cássio, Leandro Ávila, Rocha, Beto(Jorginho), Petkovic, Reinaldo(Roma) e Edílson. Técnico: Zagallo.

Um comentário:

Mauricio Motta disse...

Lógico que teríamos este post poor aqui.
Neste jogo, o Vasco abusou de perder gols na cara de Julio César, principalmente com Euller e Juninho Paulista.
O Vasco se acovardou e o Flamengo partiu para cima e foi campeão com justiça.
Petkovic entrou para a história do Flamengo. Não por acaso, o considero o maior ídolo do clube após a geração de Zico e companhia.
Mas é bom lembrar que a fase do sérvio não era nada boa. Pet não fazia um bom campeonato, talvez isso explique as pichações.
É uma boa lembrança este gol, mas quem vive de passado é museu. O que vale no momento é a Copa do Brasil!
Abraços