terça-feira, 11 de maio de 2010

Pobre Menino Rico

A ausência de Adriano na lista oficial de Dunga para a Copa do Mundo tem de ser analisada sobre alguns aspectos que transcendem a do esporte. Reparem como Dunga estava cheio de dedos na coletiva e evitando criticar o atacante preterido por ele. Parecia uma atitude carinhosa de uma pessoa que é notoriamente um grosseirão. E toda vez que Adriano apronta das suas alguém sai em sua defesa alegando o bom caráter do Imperador.

Não conheço Adriano pessoalmente, mas ele passa a imagem de ser um sujeito simples e simpático, sem a empáfia que encontramos em alguns colegas de trabalho seus. Mas Adriano é, acma de tudo, uma vítima. Uma vítima da fama, do dinheiro, do sucesso e de si mesmo. Criado na favela, como ele mesmo faz questão de se orgulhar, acertadamente aliás, Adriano não teve (e não tem) estrutura para suportar o caminhão de dinheiro que ganha. É refém do próprio dinheiro. Nunca sabe quando alguém se aproxima dele por interesse ou não.

Imagine um menino da favela, negro, que cresceu vendo as arbitrariedades que bandidos cometem no morro e que tem nestes caras as referências de sucesso. O caminho parece sem volta, e a bandidagem é questão de tempo. Mas Deus acaboui lhe dando um dom, o de jogar futebol. Flamenguista, Adriano realiza o sonho de jogar no clube de seu coração. Vira atacante, ganha fama, vai para a Europa e começa a ganhar rios de dinheiro. Porém, Adriano não teve uma coisa que é indispensável para suportar a pressão e a cobrança de ser um atleta de ponta: educação básica. É nos primeiros anos de escola que nossa estrutura social se forma e é com ela que vamos enfrentar todos os desafios.




Aquele garoto que na infância assistia ao poderio dos nada politicamente corretos chefes de morro, agora também é uma referência, um espelho. Mas não somente para as crianças de sua comunidade, mas para jovens de todo um país. E ele que cresceu neste meio horrível tem de dar um bom exemplo, afinal é um atleta e virou ídolo de milhares de pessoas ao redor do mundo. Ele não pediu para ser espelho de ninguém. Mas isso não depende de sua vontade. Ele simplesmente é e ponto final.

Sob pressão, cada um reage de uma forma. Se for bem orientado ao longo da vida, tira de letra e vira uma referência mundial, como um Zico, um Pelé, um Ronaldo. Mas se não tem acaba sucumbindo. No caso de Adriano, o álcool assumiu o papel de maior amigo do craque. Afinal, ele bebe para esquecer e comemorar. Bebe para relaxar. Bebe para qualquer coisa. E a sociedade, impiedosa e cruel não quer saber, e o taxa de bandido, favelado, vagabundo.

Adriano tem muito mais futebol que qualquer atacante do Brasil que vai à Copa. Mas não tem a cabeça necessária ao atleta de alto nível, que precisa abdicar de muitas coisas na vida para ter sucesso em uma carreira tão glamourosa quanto cruel. Vira um joguete nas mãos de empresários, falsos amigos, namoradas malucas, familiares interesseiros. O seu estupendo talento mingua perto do caminhão de julgamentos prévios que ele recebe. Não é fácil aguentar. Adriano é humano e não suportou. Perde, além dele próprio, o futebol, pois o Imperador é um raro talento que vai caminhando para o ralo lenta e melancolicamente.

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