Porquê Andrade caiu

A direção de futebol do Flamengo não resistiu aos péssimos resultados na Libertadores (apesar da classificação para as oitavas) e no Estadual e foi toda ela demitida. Desde o diretor de futebol Eduardo Manhães, passando pelo vice de futebol Marcos Braz e chegando até ao treinador Andrade. O Flamengo será comandado interinamente por Hélio Paulo Ferraz, vice geral do clube, até que um novo gestor para o futebol seja contratado. O nome de Leonardo, atualmente técnico do Milan, é o preferido da presidente Patrícia Amorim para a vaga. Para o cargo de treinador, Joel Santana é o mais cotado, apesar de ainda estar vinculado ao Botafogo.

Como sempre acontece no futebol brasileiro, o técnico paga a conta dos fracassos. Não sei se é porque é mais fácil mandar um embora do que 25, 30 atletas do futebol, mas essa é a cultura em nosso futebol. E os professores sabem disso. Celso Roth tem uma frase ótima sobre isso: "No Brasil todo treinador é interino". É a mais pura verdade. E talvez resida aí o primeiro grande erro de Andrade no comando do Fla. O velho Tromba jamais assumiu a condição de principal comandante da equipe, sempre foi um interino. Por falta de respaldo da direção ou por ser traço de sua personalidade, Andrade jamais combateu a farra de privilégios que se abateu sobre a Gávea desde o início do ano. Jogadores vetando concentração. Adriano faltando a treinos a torto e a direito e Bruno impondo a vontade de um grupo mimado e descompromissado com o ideal maior: o clube. Andrade jamais se confrontou contra isso. E foi sendo aos poucos fritado.

Braz e Andrade, vítimas da crise! Alguma coisa devia ser feita!

Mas Andrade também falhou no que tange à condução da equipe. Se o seu mérito quando da conquista do brasileiro ano passado foi escalar uma equipe insinuante, com força na marcação e no ataque, na mesma proporção, agora parece que o Tromba foi acometido pelo mal que atinge a maioria de nossos professores: a irresistível tentação pela retranca. Não pode um clube como o Flamengo escalar quatro jogadores de contenção em um jogo de Libertadores e em um clássico decisivo pelo Estadual. Nada contra os jogadores, mas deixar Petkovic e Vinícius Pacheco no banco e botar Toró na equipe titular não dá. Não tem equipe que produza desta maneira, com esta escalação. Tanto que ao lançar Pacheco no segundo tempo contra o Botafogo, o Fla melhorou e produziu muito mais chances de gol. A equipe, recheada de jogadores de qualidade, vinha jogando muito mal. E Andrade tem sim sua parcela de culpa.

Mas ele não é o único culpado. Não é nem o principal na minha opinião. O grande responsável pela avalanche de confusões que se abateu sobre a Gávea este ano se chama Marcos Braz. Sim, o dirigente que com todos os méritos conseguiu estancar problemas e conduzir o Flamengo ao título brasileiro, após 17 anos, se transformou em um verdadeiro bobão que deixou o sucesso lhe subir à cabeça. Desta vez, ao invés de discutir internamente os problemas, ele resolveu lavar a roupa suja pela imprensa. O desentendimento com Pet, as absurdas declarações de privilégios a Adriano e Vágner Love a o apoio incondicional às peripécias do Imperador, evidenciam o quão Braz esteve perdido nesta temporada. E o elenco no meio deste bombardeio se transformou num barril de pólvora. Prova disso foram as atuações pífias e carregadas de nervosismo que culminaram com a perda do tetra estadual e por pouco na eliminação da Libertadores.

Agora cabe à nova direção de futebol dar garantias de tranquilidade para o elenco poder se concentrar no dificílimo jogo diante do Corinthians. Se realmente conseguir acertar com Joel, já será o primeiro golaço de Hélio Paulo Ferraz na gestão do futebol. O Natalino tem perfil conciliador e já trabalhou com a maioria dos jogadores deste grupo do Flamengo. Ele fala a "língua" dos boleiros e tem muita competência. Seria a retomada do trabalho que o próprio Joel deixou pelo caminho ao trocar o Fla pela seleção da África do Sul no meio da Libertadores de 2008.

Boa sorte a quem assume e sucesso a quem seguirá o caminho!